“Observem! Há poucas coisas tão importantes, tão religiosas, quanto isso”. Pastor Frederick Buechener
Observar sem avaliar
O primeiro dos 4 componentes da CNV
consiste em necessariamente separar a observação da avaliação.
Observar é uma forma importante e
autêntica de expressar claramente a outra pessoa como estamos. No entanto, quando a observação traz junto a ela
avaliação, diminuímos a possibilidade de que os outros ouçam a mensagem que
desejamos lhe transmitir. Em vez disso, é provável que eles recebam como crítica
e, assim, tentem se defender contra o que é dito.
Aqui mais uma vez, vale lembrar o
caráter solucionador da CNV de se obter aquilo o que se necessita.
Não-violência não é benevolência ou caridade, mas sim um caminho compassivo
de enorme potencial na resolução de conflitos de todo tipo.
A CNV não nos obriga a permanecermos
completamente objetivos, abrindo mão da ação de avaliar. Mas ela pede que
mantenhamos essa separação entre avaliação e observação. Trata-se de
linguagem dinâmica e que desestimula generalizações, isto é, quando a avaliação
for necessária, que ela não seja estática e redutora, mas sim que privilegie o
momento, se baseando nas observações específicas de cada contexto.
Exemplo:
·
Você é generoso demais.
(Verbo ser empregado de maneira estática sem indicar que a pessoa que
avalia aceita a responsabilidade pela avaliação).
Funcionaria melhor se:
·
Quando vejo você dar para os outros todo o dinheiro do almoço,
acho que está sendo generoso demais. (Assumindo
uma avaliação focada em um momento e contexto específico).
Durante o grupo de estudos,
percebemos que esse capítulo oferece um conceito que, na maior parte das vezes,
é razoavelmente simples de entender. No entanto, é extremamente difícil
colocá-lo em prática. Misturar observação e julgamento é um comportamento naturalizado
a nós, participantes, e acredito que também esteja enraizado na nossa cultura.
Nesse sentido, durante o capítulo,
somos introduzidos ao pensamento do semanticista Wendell Johnson:
"Nossa linguagem é um
instrumento imperfeito, criado por homens antigos e ignorantes. É uma linguagem
animista, que nos convida a falar a respeito de estabilidade e constâncias,
de semelhanças, normalidades e tipos, de transformações mágicas, curas rápidas,
problemas simples e soluções definitivas. No entanto, o mundo que tentamos
simbolizar com essa linguagem é um mundo de processos, mudanças, diferenças,
dimensões, funções, relações, crescimentos, interações, desenvolvimento,
aprendizado, abordagem, complexidade. E o desencontro entre este nosso
mundo sempre em mutação e as formas relativamente estáticas de nossa linguagem
é parte de nosso problema".
Outros exemplos em que temos a
oportunidade de nos expressar melhor:
Julgar é tão naturalizado que a gente nem se perguntar o porquê.. |
Exercício: Observação x Avaliação
Esse é um exercício que Marshall
propõe no final do capítulo para “determinar sua habilidade de discernir
entre observações e avaliações, faça o exercício a seguir”. Circule *anote*
o número de qualquer afirmação que seja uma observação pura, sem nenhuma avaliação
associada.
- Ontem, João estava com raiva de mim sem nenhum motivo.
- Ontem à noite, Lúcia roeu as unhas enquanto assistia à Novela.
- Marcelo não pediu minha opinião durante a reunião.
- Meu pai é um homem bom.
- Maria trabalha demais.
- Luís é agressivo.
- Cláudia foi a primeira da fila todos os dias desta semana.
- Meu filho freqüentemente deixa de escovar os dentes.
- Antônio me disse que eu não fico bem de amarelo.
- Minha tia reclama de alguma coisa toda vez que falo com ela.
~~ Respostas
.
.
1. Se você circulou esse número,
discordamos. Considero "sem nenhum motivo" uma avaliação. Também
considero uma avaliação inferir que João estava com raiva. Ele podia estar
magoado, amedrontado, triste ou outra coisa. Exemplos de observações sem
avaliação poderiam ser "João me disse que estava com raiva" ou
"João esmurrou a mesa".
2. Se você circulou esse número,
estamos de acordo em que se fez uma observação à qual não estava associada
nenhuma avaliação.
3. Se você circulou esse número,
estamos de acordo em que se fez uma observação à qual não estava associada
nenhuma avaliação.
4. Se você circulou esse número,
discordamos. Considero "homem bom" uma avaliação. Uma observação sem
avaliação poderia ser "Durante os últimos 25 anos, meu pai tem doado um
décimo de seu salário a obras de caridade".
5. Se você circulou esse número,
discordamos. Considero "demais" uma avaliação. Uma observação sem
avaliação poderia ser "Maria passou mais de sessenta horas no escritório
esta semana”.
6. Se você circulou esse número,
discordamos. Considero "agressivo" uma avaliação. Uma observação sem
avaliação poderia ser "Luís bateu na irmã quando ela mudou de canal".
7. Se você circulou esse número,
estamos de acordo em que se fez uma observação à qual não estava associada
nenhuma avaliação.
8. Se você circulou esse número,
discordamos. Considero "freqüentemente" uma avaliação. Uma observação
sem avaliação poderia ser "Esta semana, meu filho deixou duas vezes de
escovar os dentes antes de dorm ir".
9. Se você circulou esse número,
estamos de acordo em que se fez uma observação à qual não estava associada
nenhuma avaliação.
10. Se você circulou esse número,
discordamos. Considero "reclama" uma avaliação. Uma observação sem
avaliação poderia ser "Minha tia telefonou para mim três vezes esta semana,
e em todas falou de pessoas que a trataram de alguma maneira que não a
agradou".
Até o próximo capítulo!
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