Está escancarado e fingimos não ver. Mas por mais que ignoremos, não deixa de ser uma verdade inconveniente.
Nós
estamos surdos. Perdemos a capacidade de escutar uns aos
outros. A única voz que nos interessa é a nossa própria voz.
Você fala e fala. Eu estou
calado, mas não estou te ouvindo. Estou
esperando a minha vez de falar. E numa rápida janela de oportunidade entre
suas palavras, eu começo a articular as minhas. Você se cala, mas não está me
ouvindo. Está pensando nas suas próximas sentenças, de olho em um gancho para
encaixá-las e voltar à posição de quem se expressa.
Assim caminhamos... Você
consegue imaginar a tragédia de uma sociedade sem comunicação? Não precisa
pensar muito, já vivemos neste mundo.
Do individualismo e do ego.
Imagine que você foi
convocado às pressas para uma cerimonia, mas as suas gravatas estão sujas. É um
evento importante e você precisa muito mostrar uma boa imagem.
Porém, por falta de tempo,
você decide ir sem gravata mesmo. Afinal, não da pra perder as oportunidades
que aquela noite poderia oferecer.
Então, logo nos primeiros
passos local adentro, você cruza com um homem bem vestido. Acontece aquela
troca de olhares rápida e você se pergunta se ele percebeu a sua ausência de
gravata.
“Será
que eu estou muito estranho ou inadequado”?
Dá uma pequena aflição de
estar sendo julgado por todos ao redor.
“O
que aquele homem realmente pensou da minha vestimenta”?
A verdade é que ele não
pensou nada...
O homem estava inseguro,
pois naquela semana não conseguiu agendar um horário no cabeleireiro. Como não
poderia perder o evento, resolveu participar com o cabelo grande mesmo.
Percebe? Eu sou o centro do meu
mundo, você do seu e o homem de cabelão dele mesmo. E não há espaço para que
esses mundos se encontrem e interajam. Não há tempo e nem espaço.
Todos no salão preocupados
com eles mesmos. Assim ninguém se dá conta da sua “não-gravata”.
Claro, eventualmente alguém
pode reparar e até mesmo lhe tecer um comentário. Mas isso dificilmente terá
algum peso de relevância na vida daquela pessoa e ela provavelmente esquecerá
nos próximos dois minutos.
Ninguém está, de fato,
interessado no outro. E no diálogo? Piorou. Não nos inclinamos a escutar propriamente o que as pessoas têm a nos dizer, e vice-versa. Abandonar o próprio centro para uma interação honesta é tarefa árdua.
Em uma bela tarde de domingo, estava eu no salão
de desembarque do aeroporto, esperando para entrar no Brasil, quando duas
mulheres que estavam adiante começaram a conversar sobre a violência que assola
o país:
- Você acredita que o meu
filho foi assaltado na porta de casa em plena luz do dia? O ladrão levou tudo e
ele está muito traumatizado agora.
O que você responderia à uma pessoa que está abrindo o trauma de um filho, uma dificuldade que a família dela
está enfrentando? O dialogo prosseguiu assim:
- Lá na minha terra é bem
pior, às vezes os bandidos fazem ‘toque de recolher’, não deixam ninguém sair
após às 22 horas. Outro dia um rapaz foi baleado quando chegava do trabalho
tarde da noite.
Caramba, um grupo de pessoas
ruins definindo a liberdade de ir e vir das pessoas? Chocante, não? Não para a
primeira mulher:
- O meu filho agora não
consegue entrar em casa sozinho mais. Precisa sempre de alguém vigiando.
Estamos pensando em trocar a casa por um apartamento.
- Isso aí com a gente não
resolveria nada. Lá ninguém tem segurança em lugar nenhum...
Já deu pra perceber que essa é uma conversa de surdos, não é verdade? Não se escuta, se
disputa. A vaidade era tão grande que a conversa acabou virando uma briga de quem
sofria desgraça maior.
É assim que atualmente nos
encontramos. Todos somos as mulheres do aeroporto. Isolados em uma bolha de ego, perdemos contato com o mundo.
E um mundo sem contato é um mundo condenado. Estamos perdidos. Em todas as esferas.
Enquanto indivíduos, estamos tristes, solitários, egoístas, depressivos e
aflitos. Enquanto sociedade rejeitamos a nossa própria culpa, afogamos na lama,
corrupção, polaridade, maniqueísmo e desesperança.
Tem alguém do outro lado?
Em uma conversa, ter o foco
fechado em si mesmo é perder a oportunidade de crescer e ampliar os horizontes.
Escutar ajuda a entender que
existem outras formas de ver o mundo, outras maneiras de lidar com as
situações. Cada palavra carrega a
história de vida de quem fala, uma história
que é diferente da história de quem escuta.
Cada
ser é um universo. E o mapa não é o território. Por trás das
palavras, do jeito, do tom, da velocidade da fala e do sotaque existe infinitude.
Criação, experiências, percepção de tempo, valores, crenças, emoções, estado
físico, estado emocional.
Quando alguém precisa se
abrir conosco é razoável tentar entender o que esta pessoa está passando, o que
está sentindo. É bonito e respeitoso tentar assimilar as palavras e o que elas
carregam. Os sentimentos, as emoções.
É possível ouvir sem julgar,
sem comparar e sem puxar a conversa para nós mesmos.
Quero dividir com você este
pequeno texto que circula na internet e reflete bem tudo isso:
Talvez por isso a prática da terapia é tão fortalecedora..
As portas que se abrem
Todo mundo está em busca de um
diferencial. Se destacar em alguma coisa que resulte em grande sucesso e
reconhecimento.
Pois eu vou te dizer com muita
convicção, não há diferencial maior que se interessar pelo o outro. Mas se
interessar genuinamente.
Estar interessado
verdadeiramente nas pessoas ao seu redor, praticar uma escuta ativa e exercer a empatia podem fazer a
diferença na sua vida.
Essas práticas vão te
auxiliar a:
1) sair de uma rotina
mental, dando-lhe novos pensamentos, novas visões, novas
ambições.
2) fazer amigos mais facilmente.
3) aumentar sua
popularidade.
4) conquistar pessoas para o
seu modo de pensar.
5) aumentar sua influência,
seu prestígio, sua habilidade em conseguir as coisas.
6) resolver queixas, evitar
discussões e manter seus contatos humanos agradáveis e suaves.
7) despertar entusiasmo
entre os seus companheiros.
Contudo, insisto, o interesse
deve partir de uma vontade sincera. Quem finge pode alcançar alguns resultados breves e
frágeis. Porém aqueles que conseguem praticar a empatia verdadeira alcançam
outros níveis, à longo prazo, tanto profissionalmente quanto pessoalmente.
A Escutatória
Certa vez, o nosso
queridíssimo Rubem Alves escreveu:
“Sempre vejo anunciados cursos de oratória. Nunca vi anunciado curso de escutatória. Todo mundo quer aprender a falar. Ninguém quer aprender a ouvir. Pensei em oferecer curso de escutatória. Mas acho que ninguém ia se matricular”.
Não sou capaz de te oferecer
um curso de Escutatória. Mas gostaria de lhe propor um exercício. Um exercício
de acolhimento.
Durante os próximos sete
dias, se proponha a escutar uma pessoa por dia.
O objetivo é receber a
pessoa e o que ela tem a dizer. Deixar ela se sentir a vontade pra ser ela
mesma. Sem julgamentos, sem críticas e sem conselhos. Ser apenas um espaço que
ela possa contar quando precisar se abrir, se sentir ouvida e acolhida. Mostrar
que você a compreende e confia na sua capacidade. Se possível, faça isso sem
usar as palavras.
Que tal? Vai ser bom para
ela, para você, para a relação de vocês e para o mundo!
Uma dica extra: ter a mente organizada e em equilíbrio é de grande ajuda na hora de receber o que o outro diz. Você pode fazer isso cuidando da sua casa.
Uma dica extra: ter a mente organizada e em equilíbrio é de grande ajuda na hora de receber o que o outro diz. Você pode fazer isso cuidando da sua casa.
No fim, eu gostaria que você
compartilhasse essa experiência comigo. Como foi, o que sentiu e a conclusão
que tirou. Pode ser por aqui nos comentários, via alguma rede social ou pelo
email de contato, tanto faz. Eu ficaria muito feliz de ouvir a sua opinião.
O Espaço é isso, reflexões pequenas e transformadoras =)
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Grande abraço!
Ótimo artigo ,só discordo q nem sempre o que ouvimos é produtivo ,muitas coisas são até prejudiciais e claro vendo em geral ,o ouvir para quem está falando conta a sua realidade ,o ser humano é fascinante né ? ,parabéns pelo testo .
ResponderExcluirFoi fascinante ouvir o seu ponto de vista agora =))
ExcluirObrigado!
Parabéns pela observação! belo texto!
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