Tradução do francês por Maristela Lima
- O que é o amor?
A Comunicação Não-Violenta desenvolveu-se precisamente para responder a esta questão. O que é
o amor? Como nós podemos viver o amor? Minha visão das coisas é que nós
demonstramos reciprocamente amor quando nos conectamos uns aos outros com
empatia, quando mostramos ao outro o que nos emociona, quando nos asseguramos
que a conexão estabelecida com o outro é fundada apenas e unicamente na
necessidade de dar e receber compaixão.
A maioria de nós define o amor de uma
maneira totalmente diferente; nós pensamos que amor é um sentimento. Se
olharmos com atenção exatamente o que acontece quando você pergunta ao seu
parceiro amoroso: “Você me ama?”, constatamos que estamos, na verdade, fazendo
outra pergunta: “Você tem sentimentos de carinho por mim? Seu coração bate por mim?”.
E os sentimentos não têm nada de estático, eles podem evoluir de um momento a
outro. É por isso que a resposta mais honesta à questão “Você me ama?”, é uma
outra questão:
“Você quer saber o que eu sinto agora, neste momento? Ou você quer que eu faça extrapolações para avaliar quantos minutos eu vou pensar em você em termos de carinho e ternura ao longo dos próximos meses?”.
Claro, uma reação assim corre um grande risco de provocar sentimentos de irritação ou raiva em seu parceiro, que gostaria de ter clareza: “E então? Você tem ou não estes sentimentos por mim?”. Na realidade, é impossível reagir a esta pergunta com uma resposta universalmente válida. A única resposta honesta está ligada a certo contexto e a um momento específico.
Vários casais se violentam falando de amor sem saber exatamente o que eles entendem por “amor”.(…) Muitas pessoas precisam atravessar cinco relações infelizes antes de compreender que nunca sua necessidade de amor será preenchida se elas buscam um/a parceiro/a que satisfaça todos os seus desejos antes de elas mesmas saberem o que querem. E aí, nós tocamos apenas em uma das numerosas estratégias destrutivas que nossa cultura nos ensinou para abordar o amor, a intimidade e a sexualidade.(…)
“Você quer saber o que eu sinto agora, neste momento? Ou você quer que eu faça extrapolações para avaliar quantos minutos eu vou pensar em você em termos de carinho e ternura ao longo dos próximos meses?”.
Claro, uma reação assim corre um grande risco de provocar sentimentos de irritação ou raiva em seu parceiro, que gostaria de ter clareza: “E então? Você tem ou não estes sentimentos por mim?”. Na realidade, é impossível reagir a esta pergunta com uma resposta universalmente válida. A única resposta honesta está ligada a certo contexto e a um momento específico.
Vários casais se violentam falando de amor sem saber exatamente o que eles entendem por “amor”.(…) Muitas pessoas precisam atravessar cinco relações infelizes antes de compreender que nunca sua necessidade de amor será preenchida se elas buscam um/a parceiro/a que satisfaça todos os seus desejos antes de elas mesmas saberem o que querem. E aí, nós tocamos apenas em uma das numerosas estratégias destrutivas que nossa cultura nos ensinou para abordar o amor, a intimidade e a sexualidade.(…)
E como eu posso me dirigir ao ser amado dizendo “Eu te amo”, sem temer os efeitos colaterais que minha pergunta poderia provocar?
Eu
me lembro da primeira vez em que me perguntei isso: mas como então posso dizer “eu
te amo”? Estava sentado em minha mesa de trabalho e redigia um texto que
eu deveria apresentar em breve sobre o tema. Eu fui à cozinha pegar algo para
beber e encontrei minha filha pintando sobre a mesa. Senti vontade de me
debruçar sobre ela, como tinha o hábito de fazer, e de lhe dar um beijo dizendo
“eu
te amo”. Mas eu parei e ouvi uma vozinha em mim: “Se você pensa realmente que ama
sua filha, tente formular seus sentimentos de maneira que ela possa realmente
ouvi-los. O que você gostaria de celebrar? O que minha filha remexe no fundo de
mim tão fortemente? Ela está apenas lá, na mesa da cozinha, pintando”.
E eu me lancei:
– Marla, quando eu vejo você sentada aí,
pintando, eu…
E eu
procurava os sentimentos que me habitavam. Seria tão simples dizer “eu
te amo” porque isso evitaria me colocar em conexão comigo mesmo. Agora,
seria preciso aprofundar meus sentimentos. E foi o que fiz. Quando tive clareza
de meus sentimentos e necessidades, senti uma imensa felicidade, muito mais
forte do que antes. Então, eu lhe disse:
– Quando eu vejo você sentada aí,
pintando, eu sinto uma intensa alegria de viver na companhia de um ser tão
maravilhoso: isso preenche tão bem esta intensa necessidade de conexão que me
habita.
Eu
pude ver então, no fundo de seus olhos, que minhas palavras lhe trouxeram muito
mais prazer que se eu tivesse lançado um “eu te amo” qualquer. Isto feito, eu
também desvendei muito mais coisas de meu mundo interior. Eu só posso
recomendar ardentemente que você também faça esta experiência. Comporte-se das
duas maneiras e pergunte às pessoas de seu convívio o que elas pensam das duas
atitudes, e qual elas preferem.
Mas eu preciso também lhe prevenir para as
consequências desta mudança. Se uma pessoa tomou gosto pela expressão detalhada
de sentimentos, você pode guardar os seus “eu
te amo”; eles não significam mais nada. Quando eu falo à minha companheira “eu
te amo”, ela me atira: “Ah, não, eu quero a versão integral!”.
A bela imagem de um casal unido para a vida toda tem sentido para você?
Para
mim, se duas pessoas têm trocas regulares e honestas sobre sua maneira de ver
as coisas e suas intenções, elas têm muito mais chances de ver sua relação
durar a vida toda do que se elas não o fazem. É bom que dois seres conversem
periodicamente sobre suas necessidades e sobre as estratégias que eles usam
individualmente ou em comum para satisfazê-las. Se eles estão atentos a tudo
que poderia bloquear seu desejo de proximidade e sua aspiração a manter uma
conexão acolhedora entre eles, a base de sua relação torna-se tão sólida e gostosa
de viver que cada um deles decidirá, livremente, dia após dia, continuar.
Se o amor não é um sentimento, o que é então o amor? É uma necessidade?
Quando
eu falo de “amor”, eu entendo duas coisas distintas. Primeiramente, utilizo a
palavra amor como expressão de uma atitude espiritual. Quando eu me reconecto a
esta dimensão espiritual, o amor diz respeito ao conjunto da humanidade, a
todos os seres vivos sobre esta Terra, às árvores, ao mar, ao ar, à energia
divina.
O prazer de estar ao serviço da vida é a fonte de uma de nossas
necessidades mais fundamentais. Regar uma planta e se alegrar de vê-la crescer…
eis como eu concebo o amor. Esta dimensão espiritual do amor se aplica
também aos seres humanos. Eu posso amar uma pessoa com este amor, mesmo se ela
não me é particularmente simpática ou mesmo se eu não gosto dela. E, apesar de
tudo, eu posso contribuir para que tudo vá bem para ela. Nossa mais bela
maneira de cuidar de nós mesmos é de dar aos que estão a nossa volta
apreciações profundas.
Do contrário, cada vez que nós chamamos alguém de
imbecil, nós pagamos um preço muito alto, pois isto é como dizer que nós
vivemos num mundo repleto de imbecis. Se eu me decido a ver
prioritariamente a beleza de cada um, é a mim mesmo que eu trato com amor. Esta
mensagem não é minha: todas as religiões a trouxeram, cada uma a sua maneira: “Não
julgue para que não seja julgado… Ame ao seu próximo como a si mesmo…”.
Eu tenho a escolha de servir a vida me apoiando nesta atitude interior. Cada um
dos meus gestos parte de meu único prazer de entrar em contato com todos os
seres vivos, e não de uma obrigação qualquer, um sentimento de culpa, ou porque
está escrito na bíblia. Fazendo isto, eu contemplo uma de minhas necessidades mais
importantes: de sentido. Eis minha primeira definição de amor.
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