Relacionamentos abusivos: o que é, como acontece e como você pode se ajudar ou ajudar alguém. - O Espaço - Comunicação Não-violenta Relacionamentos abusivos: o que é, como acontece e como você pode se ajudar ou ajudar alguém.

Relacionamentos abusivos: o que é, como acontece e como você pode se ajudar ou ajudar alguém.

2018/03/08 | Nenhum comentário | |


Relacionamentos abusivos


Você está sofrendo violência em seu relacionamento?
Conhece alguém que está e gostaria de ajudar?

Essa é uma questão de saúde pública delicada, importante e que afetas muitas mulheres no nosso país.

Pollyanna Abreu, psicóloga especializada em Terapia Comportamental (análise do comportamento), veio ao O Espaço pra falar um pouquinho pra gente sobre relacionamentos abusivos. Um tema de saúde pública delicado, importante e que afeta muitas mulheres.

A Polly se dedica e desenvolve muitos trabalhos sobre o tema. Ela está aqui no grupo com a gente e também atende em Belo Horizonte.

E-mail: pollyannaabr@gmail.com
Cel.: 31 99283-8113

Ela nos traz muita informação interessante. Informação que pode ajudar a salvar e libertar alguém que precisa. Por isso gostaria de te pedir para compartilhar com o máximo de pessoas que conseguir, ok?

Segundo relatório da ONU, 1 em cada 3 mulheres no mundo vai sofrer violência algum momento de sua vida.  Alguém próximo pode estar precisando receber este material.

Informação é liberdade.

Abaixo, transcrição completa da entrevista:




Então, o que é um relacionamento abusivo?  Quais os tipos de abuso?


Abuso verbal/psicológico e/ou fisicamente: desde um chacoalhão, um aperto mais forte no braço, beliscão, até tapas na cara, espancamento, ameaça com facas e outros objetos, pressionar ou obrigar o parceiro a ter relações sexuais ou impedir o controle de natalidade/uso de preservativo e perseguição, cárcere privado, tortura e  feminicídio ( termo que designa o assassinato de um mulher por razões estritamente de gênero).

A violência psicológica também pode ocasionar a morte da vítima, seja porque o maltrato evolui à agressão física ou porque a própria vítima se mata de tão deprimida que fica.

Existe também o abuso de ordem financeira/patrimonial se caracteriza, quando o parceiro proíbe o outro de trabalhar, controla o gasto do dinheiro, proíbe o acesso a contas bancárias, não envolve em planejamento financeiro, entre outras ações.

Começou a ser reconhecido também o abuso de ordem tecnológica, que se manifesta pelo controle das redes sociais, como, por exemplo, dizer quem se pode adicionar ou não ao perfil, pela insistência em obter senhas pessoais das redes do parceiro (a), monitoramento de celular e outras ações.

Existem dois cenários: a mulher que está em um relacionamento ou  já esteve em um ou a mulher que já esteve em vários, então ela tem um padrão de se relacionar assim.

Quem tem um padrão de sair de um relacionamento abusivo e ir para outro, teve uma família desajustada e cresceu com sua capacidade de se relacionar e de sentir prejudicada. Sempre tem atração por homens que não têm nada a  oferecer, e que não querem o que ela tem a oferecer-lhes.

Ela acha o homem instável é excitante, o não-confiável é desafiante, o imprevisível é romântico, o imaturo é charmoso. Ela não tem atração por homens com quem não tem conflitos, acha ele tediosos e bobos.

Esta determinada a salvá-lo através da força do seu amor.

Apesar de focar hoje nas mulheres em um relacionamento abusivo vale ressaltar que não tem classe social, gênero, raça ou orientação sexual.

relacionamento abusivo como saber se estou em um

Quais são os sinais/ situações de que você esta em um relacionamento abusivo? Como perceber?


As vezes para a mulher é muito difícil admitir que algo esta errado no relacionamento ou até mesmo perceber que esta em um.

Temos vários indicativos de que você possa estar em um relacionamento abusivo: ciúme e possessividade exagerados; controle sob as suas decisões e ações; querer te isolar até mesmo do convívio com amigos e familiares; desqualificação da companheira e a humilhação, a impressão é a de que você nunca fala nada de bom e está sempre completamente equivocada, você começa a questionar sua própria compreensão da realidade, será que to louca? As ações dele fazem você se sentir estranha ou questionar se o que aconteceu foi normal. E as vezes o parceiro fala que você é louca, que ninguém nunca vai te amar como ele, que você não vai encontrar ninguém.

Pode ser que ele queira que você troque de roupa. Que tire seu batom vermelho. Ou não goste que você tenha amigos homens. Ou, ainda, tente controlar onde você "pode" e "não pode" ir e com quem.

 

Ele faz você sentir que a culpa por ele ser agressivo ou ameaçador é sua.


Você não tá a fim de transar, mas ele insiste. Ou então você "acaba cedendo" porque quer agradá-lo. Ele faz você se sentir culpada ou na obrigação de satisfazê-lo. E pode acontecer o estupro mesmo.

Durante alguma briga, ele te segurar com força deixando as marcas dos dedos deles nos seus braços, ou quando ele tenta te abraçar à força quando você não quer mais ficar perto dele.

 

A mulher acaba cedendo as vontades dele para evitar brigas.


E tem alguns processos que acontecem e dificultam o reconhecimento de abuso: nem tá tão ruim assim, posso suportar mais ainda. Confundir ciúmes e controle com cuidado também não ajuda.

relacionamento abusivo como identificar


Ciclo da agressão

 

O Ciclo da agressão é um ciclo bastante perigoso: acontece a violência física e/ou verbal, vem a briga onde ele é agressivo ou explosivo, depois vem o período de lua de mel onde ele promete que não vai mais fazer/ falar isso. É quando ele se mostra arrependido, chora, diz que sabe que fez merda, promete que vai mudar, que vai fazer terapia, te dá presentes, fala o quanto te ama, te valoriza, te ouve, muda de sapo para príncipe. Nesse momento ele é incrível. Da a sensação que ele mudou de verdade ou que foi uma agressão isolada. É nessa hora que a mulher desiste de denunciar o abusador ou desiste de sair do relacionamento.


Nesse período, parece que vai ficar tudo bem. Mas pode demorar horas, dias, um mês, um ano: o ciclo da agressão sempre dá a volta. Mas, entre uma volta e outra, as agressões podem se tornar piores.  Da agressão verbal pode ir para a física, e do tapa na cara pode ir para o espancamento e feminicidio.

O cara abusador é bom em outras coisas, tem atitudes generosas, é simpático, trabalhador, inteligente, um bom amigo, com todas as outras pessoas, ele é ótimo, mas é extremamente violento com a companheira, no espaço privado.

Isso torna a cena confusa. A dúvida acaba quando você se vê em um hospital, precisando de atendimento médico, após receber chutes e socos na cabeça.

Às vezes a situação fica muito pior e incontrolável antes que a mulher admita que precisa de ajuda e dai as coisas começam a melhorar.

Dados

Uma em cada três jovens já vivenciou algum tipo de abuso em suas relações amorosas. A violência física, sexual ou psicológica continua a marcar a vida de três em cada 10 nordestinas. 

Realizado pela Universidade Federal do Ceará (UFC) em parceria com o Instituto Maria da Penha, mostrou que 4 em cada 10 mulheres crescidas em um lar violento acabam sofrendo a mesma violência na fase adulta, Ao mesmo tempo, 40% dos parceiros que cometem agressões também residiram em lares violentos. Fenômeno definido pelos pesquisadores como "transmissão inter-geracional de violência doméstica".

Segundo o Mapa da Violência 2015 | Homicídio de Mulheres no Brasil, duas a cada três vítimas de violência atendidas pelo SUS são mulheres.

relacionamentos abusivos como enfrentar


Negras e pobres sofrem mais violência: com o aumento da renda, a vulnerabilidade da mulher diminui. 

O Nordeste é mais desassistido do que as regiões Sul e Sudeste no que tange às políticas para mulheres. Os homens também devem ser inseridos dentro das políticas públicas de combatem a violência doméstica. Uma política como esta, que tenta verificar o comportamento masculino e melhorar esse comportamento sem dúvida pode ser muito benéfica.

A pesquisa também revela que a violência doméstica prejudica a vida profissional das mulheres no Nordeste, o salário das mulheres vítimas dessa violência é 10% menor do que o de mulheres que não sofrem dessas opressões, além disso, a duração média no emprego é 21% menor quando comparadas com mulheres que não sofrem violência doméstica.

Entre 84 países, o Brasil é o sétimo no ranking de assassinatos de mulheres. Além disso, segundo o Ministério da Saúde, são de 40 a 50 mil atendimentos anuais devido à violência doméstica. Maior parte das mulheres assassinadas, no país, está na faixa dos 20 aos 39 anos. Dois terços dos casos denunciados foram os companheiros ou ex companheiros.

Quando a gente junta esses números e olha de forma estatística, você vê que não se trata de um problema doméstico, individual, mas sim de saúde pública, de educação. Tudo o que esta mulher está passando a vizinha tá passando, a mulher da rua de baixo está passando, a mulher de outro bairro está passando.

O que fazer então? Denúncias, tratamento e como ajudar


Educação, punição e proteção seriam a tríade a ser colocada em prática para evitar que mais mulheres sejam agredidas.

Conversar sobre, muito.. precisamos falar disso, em todos os lugares, para todos os tipos de pessoas. Mudar a forma como nossa cultura vê o amor. Tanto sofrer por amor como ser viciada num relacionamento são fatos romantizados por nossa cultura. De música popular a ópera, de literatura clássica a romances mais suaves, de novelas a peças teatrais e filmes aclamados pela crítica, somos rodeados de inúmeros exemplos de relacionamentos não recompensadores e imaturos que são glorificados e exaltados. Mais e mais esses modelos culturais dizem-nos que a intensidade do amor é medida pela dor que causa, e que aqueles que sofrem realmente amam realmente.

Infelizmente o nosso sistema penal ainda é muito frágil com os casos de violência doméstica. O motivo de ficar na relação abusiva pode estar associado ao medo!

Ainda assim é muito importante ir até a delegacia da mulher e fazer um boletim de ocorrência. (abuso psicológico é considerado tortura emocional, pode denunciar)

Você pode conversar com alguém de sua confiança, ligar para o 180, a Central de Atendimento à Mulher que funciona sete dias por semana e 24 horas por dia, ou procurar uma Delegacia da Mulher. Disque 100 (direitos humanos).

É de extrema importância iniciar terapia e procurar uma rede de apoio, grupos…

Perceber que não é a única a passar por aquela situação pode ser libertador. Nem sempre percebemos o que está acontecendo e falar pode te fazer entender melhor a situação. "Quando a mulher tenta falar e descrever as situações, ela percebe que aquilo não é normal ou natural", 

Conversar com amigas e familiares sobre o assunto. É importante difundir a informação entre as mulheres.

Como ajudar a minha amiga/irmã/colega?
Apoio incondicional e paciência, em primeiro lugar. Se você presenciar uma discussão e perceber algum desrespeito, tem que meter a colher, sim! Muitas vezes, a pessoa que maltrata não percebe que está passando dos limites. Como ela não costuma escutar a companheira, escutar alguém que está de fora pode ajudar.

Denuncias feitas, com rede de apoio, terapia a pessoa começa a se conhecer mais e se planejar ao invés de tentar mudar outra pessoa.

Se relacionar prestando atenção se gosta da pessoa, se passa bons momentos juntos, se acho que ele é uma pessoa agradável.
Viver uma vida saudável, satisfatória e serena, sem depender de outra pessoa para ser feliz. E ai é possível um amor verdadeiro com proximidade e compartilhamento verdadeiro.

Se você está em um relacionamento abusivo ou conhece alguém que está em um relacionamento abusivo, procure ajuda.


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