[Texto atualizado em: 09/01/2017]
Acompanhe também a versão em áudio:
Chega
mais um ano. Você está empolgado e cheio de planos. Faz uma lista de resoluções
para os próximos 12 meses com várias coisas boas que deixarão sua vida mais
feliz. E o primeiro item está lá: praticar uma atividade física.
Ótimo!
Você não quer perder tempo. Já são 10 anos de sedentarismo, está na hora de
acabar com isso. Janeiro traz muita esperança, renovação! Logo então, você
decide pela corrida. São incontáveis benefícios. Você vai ao shopping e compra
um tênis bonito, roupas combinando, uma garrafinha de água, fones de ouvido e
até mesmo uma revista com dicas sobre a prática.
Você está realmente animado e decidido. Você aprende sobre alongamentos, respiração e encontra um lugar bacana para a sua corridinha. Até que tem sido tudo divertido, começar algo novo é mesmo bacana!
Eis que
chega o primeiro dia, você acorda mais cedo e toma um café reforçado. Seu
despertador é Rocky Balboa. Veste sua roupa nova, se alonga e vai! Começa bem,
ventinho na cara e está tudo dando certo.
A ideia
inicial era uma horinha de corrida tranquila e você estaria pronto para seguir
o dia, porém, lá pelo sétimo minuto, coisas estranhas começam a acontecer.
Uma
sensação ruim. As pernas estão pesadas. Tonteira? Um aperto no peito.
Queimação. O ar não entra direito nos pulmões. Alguma coisa está errada. As
vistas escurecendo. Será que vou desmaiar? Será que vou morrer? Você se
pergunta.
Não...
Você – provavelmente – não está experimentando a morte, você está
experimentando um fenômeno chamado homeostase.
Homeostase? O que é e como funciona?
Muitas
vezes, quando decidimos por alguma mudança realmente significativa em nossa
vida, sofremos algum tipo de recaída. Mesmo conscientemente sabendo que aquilo é
para o nosso bem, mesmo sabendo que a transformação vai ser positiva para nós,
recaímos. Recaímos e voltamos à estaca zero. Ou talvez estaca menos um, porque a frustração de um fracasso nos deixa pior
do que antes.
Faz com
que nos sintamos fracos, sem força de reação, sem capacidade para transformar a
própria vida. E assim, nos acomodamos. Acostumamos à vivências ruins, vícios e
hábitos prejudiciais, apenas pela sensação de impotência. Essa é a homeostase cumprindo o seu papel com
sucesso.
É o meu jeito mesmo, não posso mudar... |
Acontece
que uma mudança brusca não é vista como um bom sinal para os organismos vivos.
Imagine
que a temperatura do seu corpo de repente caia 5 graus: você está de férias em
algum lugar do hemisfério norte sobre águas de um lago congelado, como naqueles
filmes bonitos que a gente vê na TV. Quando você pisa em um lugar mais
sensível, o gelo se rompe e você se afunda.
Emergência
total, não é? Nesse momento, o seu corpo estaria trabalhando forte para que a
sua temperatura se restabeleça aos níveis iniciais e seguros.
Por uma
questão fundamental de sobrevivência, nós possuímos sistemas
auto-reguladores que tentam sempre manter as coisas estáveis, da forma que
estão. Bilhões de sinais eletroquímicos estão trabalhando no nosso
cérebro o tempo todo para manter o sistema equilibrado. Não só para
temperatura, como também pressão ou qualquer outra função do corpo.
Essa
resistência a mudanças significativas é chamada de homeostase. Uma tendência ao equilibro. O ambiente se
transforma e você, para garantir a sobrevivência, se auto-regula, mantendo um equilíbrio dinâmico.
É como
numa balança: quando o dia está muito quente, o corpo inicia um processo de
regulação através do suor e outros mecanismos para manter-se na temperatura
ideal.
Porém, há dois pequenos detalhes interessantes nessa história
Entendemos
a importância do processo homeostático como ferramenta biológica fundamental na
sobrevivência das espécies, contudo há ainda dois detalhes que precisamos
conhecer para colocá-los a trabalhar ao nosso favor:
- a homeostase não diferencia mudanças negativas de positivas.
Toda e
qualquer mudança significativa é um ataque a estabilidade e precisa ser
combatida. As coisas devem permanecer como estão, mesmo que não estejam lá
muito boas.
Assim,
por exemplo, uma pessoa inserida em nossa cultura ocidental tem o corpo
habituado a retirar energia de carboidratos de rápida absorção como açúcar
refinado e trigo. Ao optar por uma dieta mais saudável, rica em proteínas e que
tem como principal fonte de energia a gordura animal, essa pessoa certamente
terá seus alarmes homeostáticos gritando um alerta de perigo.
Alerta! Alerta!! Mudança acontecendo, volte
imediatamente para o padrão anterior!
Do mesmo
modo, em nossa história da corrida, quando a situação estável é a do
sedentarismo, o corpo não está habituado a uma descarga tão grande de energia
em um intervalo de tempo tão curto e isso é interpretado como um enorme fator
de risco.
- a homeostase vai além de seu princípio biológico.
A questão
homeostática está presente em tudo: de um micro-organismo a uma cultura
inteira, passando por animais, indivíduos, famílias, organizações,
sociedades... Além de um fator biológico, o conceito também se aplica tanto no
psicológico quanto no social.
Muito
antes de iniciar a primeira corrida e encontrar a resistência física, você iria
esbarrar em questões mentais e auto-sabotagens e, provavelmente, encontraria
resistência de familiares, amigos e pessoas próximas, mesmo que de maneira
inconsciente. A transformação de alguém dentro de um ambiente ameaça todo o seu
equilibro e faz com que ajustes sejam necessários por todas as partes.
Assim,
suponhamos que você, leitor assíduo do O Espaço, decide por colocar em prática
os nossos princípios. Agindo mais positiva e autenticamente frente à vida, você passa a exercitar a empatia, observa com atenção as influências do seu ego e
coloca como prioridade a troca genuína em suas relações e interações.
Nesse
contexto, as pessoas ao seu redor vão estranhar, questionar e até mesmo duvidar
das suas intenções. Ao mesmo tempo, você também se sentirá confuso internamente
e pensará, em diferentes momentos, que tais mudanças não te servem, não fazem o
seu tipo.
Por isso,
a boa prática é o nosso último e primordial princípio, para que alcancemos
transformações sólidas, com raízes profundas e duradouras e, para tais,
observar a homeostase é
imprescindível.
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Assim sendo, como posso vencer a homeostase e colocá-la a meu favor?
Aqui, reforço:
homeostase é mecanismo fundamental de sobrevivência. Estabilidade é importante. Equilíbrio é importante. Entretanto, saber
identificar as forças dessa estabilidade é de extremo valor quando se quer
assumir o controle da própria vida. Nadar contra o equílibrio é inerente a
evolução. Precisamos sentir aquele friozinho no estômago de vez em quando. As
coisas mudam. Elas precisam mudar. Porque a vida é fluxo.
Na
excelente obra Maestria, de George Leonard, o autor coloca a seguinte situação:
Veja um caso que envolve uma família de cinco pessoas. O pai, alcoólatra, toma um porre a cada seis ou oito semanas. Durante o tempo que está bebendo, e por vários dias depois, a família vive um alvoroço permanente. Não é nada de novo. Esses alvoroços periódicos tornaram-se, de fato, o estado normal das coisas. Depois, por um motivo qualquer, o pai pára de beber. Você imagina que toda a família ficaria feliz, e fica – por algum tempo. Mas a homeostase tem maneiras estranhas e furtivas de responder a um ataque. Existe uma boa chance de que, dentro de poucos meses, outro membro da família (digamos, um filho adolescente) faça alguma coisa (digamos que seja apanhado traficando drogas) para criar exatamente o tipo de alvoroço que as bebedeiras do pai provocavam antes. Sem uma orientação profissional esclarecedora, os membros dessa família não compreenderão que o filho, sem querer, tomou simplesmente o lugar do pai, para manter o sistema familiar no estado que se tornara estável e ‘normal’.
Esse é o
exemplo mais ilustrativo que podemos encontrar. Aqui, verificamos que a homeostase:
- é um fenômeno, não só fisiológico, mas também social;
- é muitas vezes difícil de ser identificada;
- não sabe diferenciar mudanças boas de ruins;
Tendo
isso claro, quero compartilhar com você cinco dicas para lidarmos com a
resistência homeostática nos processos de transformação:
1) Consciência.
Tentar
entender como a homeostase reage em você é, provavelmente, o mais importante.
Não é fácil. Você não é o pior ser humano do mundo por sentir as forças
homeostáticas atuando. Espere por uma
resistência forte. Espere por um desejo louco de comer chocolate. Isso não
quer dizer que você é fraco e nasceu pra ingerir doces. Ter uma dieta
ruim não é a sua condição de vida.
Pelo
contrário, o alarme homeostático te mostra que há uma mudança ocorrendo. Não se
deixe levar pelo primeiro sinal de fraqueza.
Seus
amigos ou familiares vão tentar te sabotar, tanto de maneira sutil quanto de
maneira aberta. Poxa, mas eles
deveriam estar felizes com a minha mudança. Não necessariamente. Às vezes pode incomodar. Porém
isso também não quer dizer que eles são pessoas ruins, mesmo que tentem te enfiar coca-cola
naquele churrasco ou que te reprimam de forma veemente e séria. Isso é apenas a
homeostase fazendo efeito no seu convívio, seja lá da forma como vier. Citando G.
Leonard mais uma vez: “todo
sistema precisa mudar, quando parte dele muda”. Esteja ciente de que isso
também é válido para os seus grupos sociais. E se prepare para ser forte.
2) Negociação.
Negociar
é um ato de extrema sabedoria. Você está seguindo feliz uma vida sem carboidrato
e de repente esbarra em uma vontade
incontrolável de comer um arroz ou um macarrão pesado. Sente fome extrema,
fraqueza, dores de cabeça, às vezes até ansiedade e estresse. Sua mãe diz que
você anda esquisito, que devia parar com essas bobagens. Você começa a
questionar a motivação disso tudo, parece que foi tudo uma tolice, uma decisão
estúpida.
Ok, pode
ser sim que você tenha embarcado em uma grande tolice. Entretanto em 99% das
vezes, isso são forças homeostáticas que querem dizer:
AVISO! Estabilidade abalada! Mudança perigosa!
Volte imediatamente ao ponto de equílibro!
Nesse
momento, o que fazer? Seria melhor recuar ou tentar forçar um avanço mais
radical? Nem um, nem outro. A resposta se encontra na negociação. O sinal homeostático
pode e deve ser utilizado como uma informação. Utilize-o para modelar a sua
mudança. Conheça seus limites para poder ultrapassá-los. Observe. Talvez um
passo pra trás possa ser necessário para dar vários à frente. Transforme o
inimigo em seu guia. Nunca sabemos de onde virão as reações homeostáticas, por
isso esteja sempre atento.
Mas tome
cuidado com as falsas negociações. Rotas de fuga e recaídas disfarçadas podem
ser racionalizadas - a mente cria uma justificativa aceitável para a recaída -
de negociações. Esteja pronto para negociar com seriedade. Tenha sempre em
mente o progresso gradual e duradouro.
3) Consistência.
Essa às
vezes me parece um pouco óbvia, mas mais do que importante ressaltar: o que
aconteceria se conseguíssemos manter um processo de mudança firme e com boa consistência?
Depois de
um tempo o padrão da homeostase iria se deslocar, não é mesmo? O
seu equilíbrio corporal, mental e social agora é de um indivíduo que tem
aquela transformação enraizada em si. Se eventualmente acontecer uma oscilação
naquele propósito, a homeostase,
então, trabalhará ao seu favor. Voltando-te para o ponto de equilíbrio que
você antes desejou. Não é incrível? Assim
nascem os bons hábitos!
O segredo
é sempre tentar manter um processo consistente. Se recair, tudo bem. Volte imediatamente
à luta, de modo a garantir que essa recaída cause o mínimo de estrago possível.
Se a recaída abalar demais e você não retomar a tempo, pode ser que atrapalhe
toda a consistência seja perdida. Reiniciar o processo vai causar um sofrimento
igual ou pior do que a primeira tentativa.
4) Encontre-se com quem também está na luta.
Eu já fui
muito cabeça dura em relação à isso. Na minha cabecinha egocêntrica ninguém me
entenderia e eu deveria resolver tudo sozinho. Ledo engano!
A força
de um grupo é catalisadora! Essencial para nossa jornada rumo à transformação.
Na motivação, na inspiração, na referência, no exemplo, no estudo, nas dicas e
nas práticas. Tudo isso é de um valor imenso. A troca com as pessoas que estão na
mesma busca que a gente é de um valor incomparável.
Existem
inúmeros grupos que se apóiam online. Você pode encontrá-los e se conectar.
Dividir e somar. Através desses grupos, não será difícil encontrar pessoas da
sua cidade para estudar e praticar presencialmente. Deixe o ego de lado e
partilhe!
5) Busque um profissional.
Essa é também uma força que o ego nos faz ignorar.
Um profissional é alguém que, dentre inúmeras outras coisas, nos
ajuda a despertar consciência para
homeostase, auxilia-nos numa negociação
honesta e nos mantém em no caminho consistente
da realização.
Seja um professor, psicólogo, educador físico, nutricionista,
terapeuta, treinador... Enfim, sem eles nossa jornada será mais dura, mais
errante e difícil e dependendo do quão enraizado e distante esteja o nosso
ponto de homeostase, a mudança só se faz possível através deles.
Faz sentido pra você? Conhecendo a homeostase e as cinco estratégias, você tem as ferramentas necessárias para aplicar qualquer resolução em sua vida. =)
Se isso faz sentido realmente,
deixe seu e-mail para muito mais:
Espero
que tenha sido útil e que você tenha muito sucesso.
Um abraço!
Um abraço!
Muito bom. Pode ajudar muita gente nessa época do ano! Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirMuito obrigado!
ExcluirComeço do ano é complicado mesmo.
Um abraço.