Aviso! Se você está lendo isso, então isto é para você! Cada segundo perdido lendo este texto inútil é outro segundo a menos da sua vida. Você não tem outras coisas para fazer? A sua vida é tão vazia que você honestamente não consegue pensar numa maneira melhor de vivê-la? Ou você fica tão impressionado com a autoridade daqueles que a exercem sobre você?
A sua vida é tão vazia a ponto de você desperdiçá-la rolando a barra do feed de notícias do Facebook? Ela é tão vazia que você tenta preenchê-la mostrando uma carcaça oca de felicidade no Instagram/Snapchat?
Como o ato de abrir a geladeira na madrugada, você aperta F5 repetidamente, na esperança de encontrar algo novo.
O seu trabalho é tão insuportável que você começa a semana já pensando no seu fim? Você faz de tudo para gastar o tempo enquanto está trabalhando? Assuntos inúteis, polêmicas e fofocas no Whatsapp são a rota de fuga.
44 horas em um emprego que você odeia. 10 horas em um trânsito doente, egoísta e selvagem. Algumas poucas horas de um sono ansioso e frágil.
E o que sobra, você gasta comprando coisas que não precisa para impressionar pessoas que você não gosta ou investe em embriaguez para afastar a realidade de si mesmo.
Você vive em uma bolha de superficialidades, sem nenhum poder de ação, apenas reagindo às coisas que aparecem. Você acredita que é especial, mais inteligente, mais esperto. Vive aguardando o momento em que sua sorte irá virar e a felicidade cairá dos céus.
Enquanto isso não acontece, você prefere queimar cada minúscula parte de sua energia vital em busca de um alívio, mentindo para si mesmo, afastando a sobriedade e se distraindo.
É só o que você consegue fazer. Essa é sua vida e ela está acabando a cada minuto.
Você lê tudo o que deveria ler? Você pensa tudo o que deveria pensar? Compra tudo o que lhe dizem pra comprar? Saia do seu apartamento. Encontre alguém para se relacionar. Pare de comprar tanto e se masturbar tanto. Peça demissão. Comece a brigar. Prove que está vivo. Se você não fizer valer pelo seu lado humano, você se tornará apenas mais um número. Você foi avisado.
As palavras de Tyler
saindo do meu teclado.
Você conhece Tyler
Durden? Dizem que é um mito, nasceu num hospital psiquiátrico e dorme apenas
uma hora por noite.
Eu o conheci em um
lugar, uma reunião... Mas não posso falar nada sobre. Existem regras lá e as
duas primeiras não me permit...
Bom, se você sabe do
que estou falando, então já somos companheiros e podemos continuar. Se ainda
não, assista ao filme Clube da Luta (1999) e volte aqui para irmos adiante.
Na última semana, O Espaço e a Vínculo Psicologia se reuniram para mais uma Roda de Conversa. Dessa
vez para falar sobre essa clássica obra, dividir nossas percepções e quem sabe
conseguir levar um algo a mais para a nossa vida.
E mais uma vez, foi
um excelente momento de partilha e reflexão entre os convidados – algo raro e
valioso para a correria dos dias atuais.
Gostaria de dividir aqui o
que consegui absorver deste momento. Não se trata de uma análise do filme (você
encontrará centenas na web) e nem de uma conclusão oficial da roda – creio que isso não seja nem mesmo possível – mas sim uma visão
pessoal de um dos participantes.
A princípio
discutimos as primeiras impressões - violência e agressividade -, as
descobertas, fatos e curiosidades do filme, além de teorias sobre os
personagens, passando por algumas análises sobre os seus perfis psicológicos.
Em seguida fomos
aprofundando e discutimos a metáfora que englobava tudo isso. Metáfora essa que
carrega uma mensagem, uma crítica do diretor David Fincher e do escritor Chuck Palahniuk ao modelo de vida ideal proposto pela sociedade à qual estamos
inseridos.
E foram alguns pontos
dessa crítica que me chamaram mais atenção:
Um modelo vazio baseado em ego e em consumo.
O nosso amigo, o
narrador, aquele que não é nomeado leva uma vida digna para os padrões atuais.
Um belo apartamento de paredes de concreto, móveis, utensílios e coleções
bacanas, roupas de marca e um emprego relevante em uma grande companhia.
Ele era muito
cuidadoso com os seus pertences e estava próximo de se sentir completo, segundo
ele próprio.
Esta é a matriz a qual somos induzidos a sonhar. Esta parece ser a vida ideal. Perfeito, se
isso, sendo tudo o que nossa vida representa, não fosse superficial demais, raso
demais, pouco demais.
Somos burrinhos atrás
da cenoura. No lado da produção perseguimos metas e mais metas. Segundo os
nossos superiores, estamos sempre próximos de conquistar uma grande relevância,
de nos tornar referência e alcançar o sucesso. Dessa maneira, nos entregamos, vestimos a camisa das companhias, e produzirmos
cada vez mais.
Mas alguém precisa
consumir tudo o que é produzido.
No lado do consumo, perseguimos mais do que nunca, e não importa o quanto obtemos, faltará algo. A propaganda cria a necessidade. E um novo sentimento de ausência está sempre emergindo.
No lado do consumo, perseguimos mais do que nunca, e não importa o quanto obtemos, faltará algo. A propaganda cria a necessidade. E um novo sentimento de ausência está sempre emergindo.
A verdade é que o
nosso amigo nunca se sentiria completo. E nós também não.
Tanto de um lado como
de outro, a alegria mora no desejo e o desejo mora na falta. Somos movidos pela
insatisfação e a ilusão de que num futuro próximo tudo será melhor.
Essa eterna busca
pelo pedacinho que está faltando se torna uma obsessão. Uma obsessão tão grande
que qualquer experiência que não esteja alinhada a esse tormento se torna uma experiência
secundária e descartável.
Uma obsessão tão
grande que às vezes nem tem cara de obsessão, as vezes parece que perseguir é apenas a
única possibilidade.
Assim,
avaliamos cada pessoa, cada experiência, cada lugar nesses moldes. E toda a
complexidade de uma vida começa a se resumir no valor de produção e no valor de
consumo.
E
confundimo-nos com os troféus que somos capazes de exibir. A nossa identidade,
o nosso eu que deveria ser infinito, passa a ser avaliado e medido.
Nesse
sentido, encontramos uma relação com o filme da primeira roda: Into the wild.
Nele, o jovem Chris enxerga a relação com sua família deteriorada, devido ao
forte ego de seus pais, que são reflexos de uma sociedade doente e mentirosa.
Assim, ele deixa tudo para trás e decide partir para uma viagem em busca de si
mesmo, imerso na natureza.
Enquanto
em Clube da Luta, o nosso amigo é a própria sociedade doente, que se autoengana e autoflagela, vivendo para buscar troféus como um zumbi.
A promessa de um sentido e os fenômenos de massa.
Atolado em vazio existencial, o nosso amigo, em uma das centenas de vôos que fazia a
trabalho, sonhava com a queda de seu avião, quando conhece uma figura
peculiar e de forte presença: Tyler Durden.
Tyler oferece um
ângulo novo. Ele propõe o despertar através da destruição e da desordem. Apenas no fundo do poço é que se alcança a liberdade, ele diz querendo
aniquilar tudo o que nos prende aos padrões vulgares e já enraizados, baseados em ego e
consumo.
E assim nasce o Clube
da Luta. E com ele um novo sentido para a vida. E todas as coisas supérfluas
passam a ser realmente supérfluas. A cor da gravata do chefe? O nosso amigo não
sabia mais e também não queria saber. Depois de uma noite no Clube da Luta, o
volume do mundo fica mais baixo.
Um novo sentido, não
só para o nosso amigo, mas para todos que, assim como ele, também estavam atrás de uma vida plena, afogados
na perseguição de cenouras. E isso era muita gente.
As duas primeiras regras do Clube proíbem que se fale a respeito, mas isso não impediu o seu crescimento exponencial. E aqui temos uma mensagem muito forte que vem pra reafirmar o fato de que nosso amigo não está sozinho: estamos doentes enquanto comunidade.
Este foi um ponto significativo
na Roda, porque conseguimos enxergar fenômenos semelhantes.
Jovens europeus de
classe média se juntam ao Estado Islâmico em busca de um novo sentido. Jovens
que buscam esse sentido em facções e torcidas organizadas. Jovens que são
recrutados pelo crime. Pessoas que aderem a religiões, militâncias políticas
entre outras coisas pra preencher esse vazio.
O que notamos tanto
na ficção quanto na realidade é semelhante ao que Freud diz em A Psicologia das Massas E Análise do Eu:
O sujeito massificado é exaltado, tem suas emoções intensificadas e pode entregar-se às mais diversas paixões. Ele se torna um inconteste, impulsivo e, por muitas vezes, contraditório. Ademais, sua singularidade parece desvanecer, fazendo com que ele pense e se comporte tal qual os demais membros do grupo. Deste modo, ele tende a ser conduzido, com maior ou menor facilidade, em conformidade com os padrões estabelecidos pela massa
Também percebemos em
como, na maioria dos casos, a massa toma vida própria, cria uma identidade e
vai além do controle de seu criador.
Da mesma forma que o nosso amigo não conseguiu parar o que se tornou “O Projeto Destruição”, os idealizadores das torcidas organizadas não conseguiriam parar também a violência que encontramos nos estádios hoje.
Da mesma forma que o nosso amigo não conseguiu parar o que se tornou “O Projeto Destruição”, os idealizadores das torcidas organizadas não conseguiriam parar também a violência que encontramos nos estádios hoje.
A Busca pelo Equilíbro
Por fim, encontramos
uma nova semelhança ao Into the Wild, filme da primeira roda: quando Chris se
vê preso naquele sistema pobre em valores, ele decide radicalizar-se, abandonar
tudo e ter uma experiência profunda na natureza, fugindo de uma obsessão, porém caindo em outra.
Da mesma forma, o
nosso amigo se radicalizou, abandonou sua sanidade e criou um alter-ego para ajudá-lo em uma nova obsessão: chegar ao
fundo do poço e se libertar.
Ambos foram de um
extremo ao outro. E mais uma vez a vida imita a arte. É comum ouvirmos falar de
pessoas que largaram uma vida estável para viver nas ruas ou pessoas que
perderam a sanidade sem nenhum motivo aparente.
Esses também podem ser casos em que se troca uma extremidade por outra.
Esses também podem ser casos em que se troca uma extremidade por outra.
Contudo, acreditamos que
entre esses dois extremos, existe um equilibro, que é difícil e muito
improvável de se alcançar.
Mas utopia não é destino, é direção.
Ilustração profissional 1: o equilíbrio utópico mora ao lado. |
Mas utopia não é destino, é direção.
Ora um pouco acima,
ora um pouco abaixo, nós oscilamos e devemos trabalhar para que essa
oscilação tenha uma amplitude cada vez menor, para assim estarmos todo dia
um pouquinho mais próximos desse equilíbrio.
Fazemos isso através do autoconhecimento, dos questionamentos e das provocações que a vida nos oferece.
E momentos de
reflexão como uma Roda de Conversa, são muito bem vindos para tal. =))
Diga Robert Paulsoooon! |
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Gostou?
Para partilhar muitíssimas outras boas reflexões e provocações, participe do nosso grupo:
O Espaço - discussões e práticas.
Grande abraço!
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