Empatia é, em essência, a capacidade
de colocar-se no lugar do outro ‘como se’ fosse o outro.
“Significa sentir as mágoas e alegrias do outro como ele próprio as sente e perceber suas causas como ele próprio as percebe sem, contudo, perder a noção de que é ‘como se’ estivéssemos magoados ou alegres, e assim por diante. Se perdermos esta condição de ‘como se’, teremos um estado de identificação” (ROGERS, ROSENBERG, 1977, p. 72)
Uma
habilidade que se desenvolveu naturalmente ao longo de nossa história e hoje ganha
dimensões mais profundas e mais complexas. Graças a pessoas de incrível
sensibilidade, como Carl Rogers, passamos a estar conscientes quanto a essa aptidão,
podendo estudá-la, praticá-la, desenvolvê-la e buscá-la deliberadamente.
No
universo da internet, percebemos, para o nosso bem, grande interesse por empatia e cada vez mais enxergamos a sua necessidade na construção de uma
sociedade menos violenta e mais justa para todos.
Dito
isso, quero dividir com você os três erros
mais comuns associados à empatia. Para as pessoas que procuram se engajar
e se desenvolver ou para aqueles que, por algum equívoco, consideram-na
distante, subjetiva e pouco proveitosa na prática.
No
entanto, antes, vamos a uma breve conceituação:
O que é empatia?
Do grego, -in – para dentro -pathos – paixão. Empatia é a capacidade
psicológica de compreender
sentimentos e emoções das
outras pessoas.
Em essência, é colocar-se no lugar do outro como se fosse o outro. É esvaziar-se dos próprios padrões, preconceitos e pensamentos viciados para se relacionar com um mundo inteiramente diferente, olhando justamente através da perspectiva desse mundo.
A
falta de empatia é desconsideração, é não permitir diferentes percepções. A
falta de empatia desconsidera a pessoa em si, os seus valores, o seu sistema de
crenças, sua história e suas necessidades.
Empatia é compreender o outro tão profundamente que para isso deixam-se de lado as próprias ideias,valores e opiniões para adentrar nesse mundo reservado e íntimo da outra pessoa. É a capacidade de se colocar no lugar do outro, ver o mundo através dos
olhos dele e procurar sentir como ele sente a experiência particular que este
vivenciou ou está vivenciando.
Para
Carl Rogers, a empatia é complexa, exigente e intensa, contudo, ao mesmo tempo
é sutil e suave. Isto posto, podemos ir aos três erros mais frequentes de quem busca crescer nessa área:
1) Empatia não é caridade.
É
comum a gente ver histórias lindas como exemplos de empatia de encher os olhos
e o coração. Casos de emocionar em que a empatia esteve a serviço de alguém
menos favorecido. Lugares em que o exercício da empatia fez com que se
aflorasse o que há de melhor nas pessoas, trazendo assim belos momentos que nos
fazem, mais uma vez, acreditar na humanidade.
Isso é maravilhoso! Mas
não é a regra e pode nos confundir.
É importante que
compartilhemos e nos inspiremos com esse tipo de história, contudo precisamos estar
atentos com pequenos erros de interpretação que podem reduzir e simplificar o
significado da palavra em ações benfeitoras.
Acontece que esses quadros podem
nos passar a ideia de que empatia sempre é uma coisa bonitinha. Piedosa. Tirando
o caráter objetivo do exercício e adicionando camadas um tanto quanto
“poéticas”. Demandando um ato bondoso e diferenciado.
Claro,
mergulhar no mundo do outro e ampliar a nossa compreensão a níveis empáticos
pode sim levar a compaixão. E é até natural que se leve. Mas não é o único
caminho. Nós podemos nos relacionar de inúmeras maneiras com a nossa capacidade de empatia.
Isso
significa que eu posso, então:
>
ser empático com alguém que cometeu um delito, entender suas motivações,
enxergar suas perspectivas e o seu sofrimento, sem precisar abrigá-lo em minha
casa?
>
ser empático com alguém que tem visões opostas às minhas em assuntos que
considero relevantes e delicados, sem precisar mudar de opinião e sem precisar
abandonar minhas convicções?
>
compreender empaticamente alguém que agiu de maneira preconceituosa sem
precisar aprovar suas atitudes e sem perder os meus valores no processo?
>
ampliar minha capacidade de compreensão a níveis emocionais, me conectar com
outras perspectivas e enriquecer minhas percepções, diminuindo a conveniência
de colocar o que é diferente em rótulos superficiais, sem com isso precisar me
sentir um super-herói?
>
agir em favor de alguém, praticar a caridade, sem ter efetivamente uma
compreensão plena daquele em necessidade?
A
resposta é sim.
Você
pode, inclusive, procurar crescer em empatia buscando o próprio desenvolvimento
pessoal, tendo um objetivo individual por essência. Melhorando as relações,
crescendo em influência, desenvolvendo círculos, aprofundando em ideias,
enriquecendo em valores e convicções e encontrando, por consequência, uma vida
mais plena pessoal e profissionalmente.
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2) Empatia não é sentimento.
A empatia nos induz ao sentimento. Como consequência. Mas não é o sentimento em si. Empatia não se sente. Quando
alguém diz sinto empatia com..., essa
pessoa provavelmente está experimentando o compartilhar de uma emoção com
alguém. Emoção que acaba por se confundir com o sentir empatia.
Na
verdade, empatia é uma capacidade psicológica, uma habilidade. E como
habilidade, podemos escalá-la, aprendendo, praticando e se desenvolvendo. Não forçando a barra do dia pra noite, assumindo posturas inautênticas e
incongruentes. Não criando rapidamente um poderoso castelo de areia que se vai
com a primeira onda. Mas exercitando o dia-a-dia e se colocando presente para
as situações que nos oferecem a oportunidade de crescimento. Essa é a boa prática que proporciona alegria no agora, troca e vida. Tijolo a tijolo.
Como?
Temos na pauta um texto apenas sobre esse desenvolvimento, mas enquanto não
acontece, vamos discutir três atitudes facilitadoras:
1) Conheça-te a ti mesmo.
Conhecer as nossas próprias emoções é fundamental para entendermos o que se passa com as pessoas.
Você consegue estar presente para os momentos em que está sentindo
algo? Consegue identificar esses sentimentos? Sabe nomeá-los e se precisasse,
conseguiria descrevê-los?
Essas
perguntas podem não ser fáceis, principalmente para os homens, uma vez que
aprendem, desde a infância, a suprimir os sentimentos para não demonstrar “fraqueza”. Assim, por um equívoco
cultural, eles precisam vencer uma barreira que é também social.
2) Desconstrua o julgamento.
Julgar
como resposta ao primeiro contato com o novo é inevitável. A gente procura
sempre por padrões, contextos e semelhanças que nos trazem associações. A gente
julga comidas, vivências, opiniões, atitudes e pessoas.
Mas
o que fazemos depois disso é uma escolha. Podemos ficar presos eternamente no
julgamento ou podemos buscar desconstruí-lo. Podemos escolher questioná-lo,
confrontando-nos a nós mesmos.
• Comer pequi é ruim mesmo ou estou preso ao seu cheiro forte? Posso
experimentá-lo.
• Os benefícios de acordar cedo e aproveitar a manhã realmente não são pra uma
pessoa como eu ou estou preso em hábitos velhos? Posso tentar por um tempo e ver
com meus próprios olhos.
• Aquela pessoa é
realmente mesquinha ou a estou julgando por critérios simplórios? Estou a
medindo com a minha reguinha pessoal? Posso
observá-la e evitar compará-la com o que eu considero ideal.
Quanto
mais próximo de zero for o tempo entre o julgamento e a desconstrução, mais
aberto ao novo estarei e mais rica será a minha vida. Ouse questionar-se de vez em quando.
3) Escute genuinamente.
Tome
um tempo para processar o que outro diz. Isso parece básico, mas é um exercício e tanto. Requer esforço de verdade.
Qual
foi a última vez que você se focou em ouvir o que estava sendo dito? Ao invés de apenas esperar a vez de falar? Sem querer interromper ou impor suas ideias?
Escute
genuinamente. Não só as palavras, mas também o que elas carregam, a emoção por
trás do tom, do ritmo, do volume... Uma história de vida complexa que culminou
naquele momento único.
Escute
e certifique-se de que o outro saiba que está sendo escutado. Comunique-se,
pergunte e entenda. Faça com honestidade e você verá a diferença.
#Bônus: Leia ficção
Estudo
afirma que se pode aprender sobre as emoções ao explorar a vida interior de
personagens fictícios.
Ler
ficção fomenta a empatia. Os leitores podem formar ideias sobre as emoções, as
motivações e os pensamentos dos outros. E transferir essas experiências para a
vida real. É o que afirma Keith Oatley, psicólogo e romancista, em uma revisão
de um estudo sobre os benefícios da leitura para a imaginação.
(Ver matéria completa: El País)
3) Trate o outro como você gostaria de ser tratado.
O coelho, em um gesto de
profunda cortesia, queria honrar seu amigo macaco lhe dando algo de valor: sua
última cenoura. O macaco, sentindo-se prestigiado, decidiu retribuir o gesto
com algo que considerava ainda mais valioso: sua última banana.
Ambos passaram a noite
morrendo de fome.
Fazer
para alguém o que eu gostaria que fosse feito a mim é uma tradição conhecida
como ética da reciprocidade ou regra de ouro. Acredito no seu
valor histórico e na sua importância como um parâmetro de desenvolvimento da
nossa civilização. Da mesma forma, acredito que ela pode ser um parâmetro
inicial para aqueles que buscam olhar e respeitar as pessoas ao redor e não têm ideia de como fazê-lo. Mas
não podemos parar por aí.
A
regra de ouro revela nobreza, porém não é empatia. Aqui temos um movimento
egocêntrico que desconsidera o outro em suas necessidades.
Quanto
mais me afasto de mim mesmo, mais próximo estou de dar ao outro o tratamento
que ele merece. Isso é, mais entendo as limitações das minhas percepções e não tenho
o outro como um reflexo da minha própria pessoa.
Cada ser é um universo, singular, infinito em possibilidades e incalculável em sua
essência. Como posso colocar a minha existência como parâmetro para alguém? Ela
pode e deve ser um ponto de partida para que então possamos expandir.
Se
eu sou um universo, é importante que eu me conheça, que me descubra e que tenha
também auto-empatia. Que eu não seja refém dos meus próprios julgamentos e
cobranças. Que eu me aceite e respeite a minha própria complexidade. Então a partir disso, posso ir adiante:
Descobrir outros universos aprender a respeito
deles e respeitá-los em suas maneiras únicas de ser, de viver e de relacionar.
Respeitar a sua capacidade de solução e sua tendência natural ao
desenvolvimento do seu livre espírito.
E
aí sim, estarei um pouco mais próximo de entregar ao outro aquilo que ele mais
necessita dentro daquela vivência.
Às
vezes uma palavra, às vezes um movimento, às vezes a escuta, às vezes o
silêncio...
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O que achou? Gratidão por ter chegado até aqui! Espero que tenha sido útil a você.
Se você leu até aqui, esse assunto possivelmente é relevante na sua experiência e se é esse o caso gostaria de compartilhar com você um vídeo sobre o tema.
Trata-se de "A importância da Empatia", traduzido pelo canal QuatroV. Esse é o vídeo mais completo que eu já vi, no entanto possui apenas 3 minutos. Em outras palavras, é um vídeo denso que você deve ver com muita atenção.
Esse vídeo foi tema da nossa Segundinha dentro da lista de e-mail. Você pode fazer parte gratuitamente, apenas preenchendo os dois campos ali embaixo.
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