Os três erros mais comuns de quem busca crescer em Empatia. - O Espaço - Comunicação Não-violenta Os três erros mais comuns de quem busca crescer em Empatia.

Os três erros mais comuns de quem busca crescer em Empatia.

2017/03/01 | Nenhum comentário | |


Empatia é, em essência, a capacidade 
de colocar-se no lugar do outro ‘como se’ fosse o outro.
“Significa sentir as mágoas e alegrias do outro como ele próprio as sente e perceber suas causas como ele próprio as percebe sem, contudo, perder a noção de que é ‘como se’ estivéssemos magoados ou alegres, e assim por diante. Se perdermos esta condição de ‘como se’, teremos um estado de identificação”  (ROGERS, ROSENBERG, 1977, p. 72) 


Uma habilidade que se desenvolveu naturalmente ao longo de nossa história e hoje ganha dimensões mais profundas e mais complexas. Graças a pessoas de incrível sensibilidade, como Carl Rogers, passamos a estar conscientes quanto a essa aptidão, podendo estudá-la, praticá-la, desenvolvê-la e buscá-la deliberadamente.

No universo da internet, percebemos, para o nosso bem, grande interesse por empatia e cada vez mais enxergamos a sua necessidade na construção de uma sociedade menos violenta e mais justa para todos.

Dito isso, quero dividir com você os três erros mais comuns associados à empatia. Para as pessoas que procuram se engajar e se desenvolver ou para aqueles que, por algum equívoco, consideram-na distante, subjetiva e pouco proveitosa na prática.

No entanto, antes, vamos a uma breve conceituação:


O que é empatia?


Do grego,  -in – para dentro -pathos – paixão.  Empatia é a capacidade psicológica de compreender sentimentos e emoções das outras pessoas.

Em essência, é colocar-se no lugar do outro como se fosse o outro. É esvaziar-se dos próprios padrões, preconceitos e pensamentos viciados para se relacionar com um mundo inteiramente diferente, olhando justamente através da perspectiva desse mundo.

A falta de empatia é desconsideração, é não permitir diferentes percepções. A falta de empatia desconsidera a pessoa em si, os seus valores, o seu sistema de crenças, sua história e suas necessidades.

Empatia é compreender o outro tão profundamente que para isso deixam-se de lado as próprias ideias,valores e opiniões para adentrar nesse mundo reservado e íntimo da outra pessoa. É a capacidade de se colocar no lugar do outro, ver o mundo através dos olhos dele e procurar sentir como ele sente a experiência particular que este vivenciou ou está vivenciando.

Para Carl Rogers, a empatia é complexa, exigente e intensa, contudo, ao mesmo tempo é sutil e suave. Isto posto, podemos ir aos três erros mais frequentes de quem busca crescer nessa área:


1) Empatia não é caridade.




É comum a gente ver histórias lindas como exemplos de empatia de encher os olhos e o coração. Casos de emocionar em que a empatia esteve a serviço de alguém menos favorecido. Lugares em que o exercício da empatia fez com que se aflorasse o que há de melhor nas pessoas, trazendo assim belos momentos que nos fazem, mais uma vez, acreditar na humanidade.

Isso é maravilhoso! Mas não é a regra e pode nos confundir.

É importante que compartilhemos e nos inspiremos com esse tipo de história, contudo precisamos estar atentos com pequenos erros de interpretação que podem reduzir e simplificar o significado da palavra em ações benfeitoras.

Acontece que esses quadros podem nos passar a ideia de que empatia sempre é uma coisa bonitinha. Piedosa. Tirando o caráter objetivo do exercício e adicionando camadas um tanto quanto “poéticas”. Demandando um ato bondoso e diferenciado.

Claro, mergulhar no mundo do outro e ampliar a nossa compreensão a níveis empáticos pode sim levar a compaixão. E é até natural que se leve. Mas não é o único caminho. Nós podemos nos relacionar de inúmeras maneiras com a nossa capacidade de empatia.

Isso significa que eu posso, então:

> ser empático com alguém que cometeu um delito, entender suas motivações, enxergar suas perspectivas e o seu sofrimento, sem precisar abrigá-lo em minha casa?

> ser empático com alguém que tem visões opostas às minhas em assuntos que considero relevantes e delicados, sem precisar mudar de opinião e sem precisar abandonar minhas convicções?

> compreender empaticamente alguém que agiu de maneira preconceituosa sem precisar aprovar suas atitudes e sem perder os meus valores no processo?

> ampliar minha capacidade de compreensão a níveis emocionais, me conectar com outras perspectivas e enriquecer minhas percepções, diminuindo a conveniência de colocar o que é diferente em rótulos superficiais, sem com isso precisar me sentir um super-herói?

> agir em favor de alguém, praticar a caridade, sem ter efetivamente uma compreensão plena daquele em necessidade?

A resposta é sim.

Você pode, inclusive, procurar crescer em empatia buscando o próprio desenvolvimento pessoal, tendo um objetivo individual por essência. Melhorando as relações, crescendo em influência, desenvolvendo círculos, aprofundando em ideias, enriquecendo em valores e convicções e encontrando, por consequência, uma vida mais plena pessoal e profissionalmente.
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2) Empatia não é sentimento. 




A empatia nos induz ao sentimento. Como consequência. Mas não é o sentimento em si. Empatia não se sente. Quando alguém diz sinto empatia com..., essa pessoa provavelmente está experimentando o compartilhar de uma emoção com alguém. Emoção que acaba por se confundir com o sentir empatia.

Na verdade, empatia é uma capacidade psicológica, uma habilidade. E como habilidade, podemos escalá-la, aprendendo, praticando e se desenvolvendo. Não forçando a barra do dia pra noite, assumindo posturas inautênticas e incongruentes. Não criando rapidamente um poderoso castelo de areia que se vai com a primeira onda. Mas exercitando o dia-a-dia e se colocando presente para as situações que nos oferecem a oportunidade de crescimento. Essa é a boa prática que proporciona alegria no agora, troca e vida. Tijolo a tijolo.

Como? Temos na pauta um texto apenas sobre esse desenvolvimento, mas enquanto não acontece, vamos discutir três atitudes facilitadoras:

1) Conheça-te a ti mesmo.


Conhecer as nossas próprias emoções é fundamental para entendermos o que se passa com as pessoas.

Você consegue estar presente para os momentos em que está sentindo algo? Consegue identificar esses sentimentos? Sabe nomeá-los e se precisasse, conseguiria descrevê-los?

Essas perguntas podem não ser fáceis, principalmente para os homens, uma vez que aprendem, desde a infância, a suprimir os sentimentos para não demonstrar “fraqueza”. Assim, por um equívoco cultural, eles precisam vencer uma barreira que é também social.

2) Desconstrua o julgamento.


Julgar como resposta ao primeiro contato com o novo é inevitável. A gente procura sempre por padrões, contextos e semelhanças que nos trazem associações. A gente julga comidas, vivências, opiniões, atitudes e pessoas.

Mas o que fazemos depois disso é uma escolha. Podemos ficar presos eternamente no julgamento ou podemos buscar desconstruí-lo. Podemos escolher questioná-lo, confrontando-nos a nós mesmos.

 Comer pequi é ruim mesmo ou estou preso ao seu cheiro forte? Posso experimentá-lo.

 Os benefícios de acordar cedo e aproveitar a manhã realmente não são pra uma pessoa como eu ou estou preso em hábitos velhos? Posso tentar por um tempo e ver com meus próprios olhos.

 Aquela pessoa é realmente mesquinha ou a estou julgando por critérios simplórios? Estou a medindo com a minha reguinha pessoal? Posso observá-la e evitar compará-la com o que eu considero ideal.

Quanto mais próximo de zero for o tempo entre o julgamento e a desconstrução, mais aberto ao novo estarei e mais rica será a minha vida. Ouse questionar-se de vez em quando.

3) Escute genuinamente.


Tome um tempo para processar o que outro diz. Isso parece básico, mas é um exercício e tanto. Requer esforço de verdade.

Qual foi a última vez que você se focou em ouvir o que estava sendo dito? Ao invés de apenas esperar a vez de falar? Sem querer interromper ou impor suas ideias?

Escute genuinamente. Não só as palavras, mas também o que elas carregam, a emoção por trás do tom, do ritmo, do volume... Uma história de vida complexa que culminou naquele momento único.

Escute e certifique-se de que o outro saiba que está sendo escutado. Comunique-se, pergunte e entenda. Faça com honestidade e você verá a diferença.

#Bônus: Leia ficção


Estudo afirma que se pode aprender sobre as emoções ao explorar a vida interior de personagens fictícios.

Ler ficção fomenta a empatia. Os leitores podem formar ideias sobre as emoções, as motivações e os pensamentos dos outros. E transferir essas experiências para a vida real. É o que afirma Keith Oatley, psicólogo e romancista, em uma revisão de um estudo sobre os benefícios da leitura para a imaginação. 

(Ver matéria completa: El País)

3) Trate o outro como você gostaria de ser tratado.


O coelho, em um gesto de profunda cortesia, queria honrar seu amigo macaco lhe dando algo de valor: sua última cenoura. O macaco, sentindo-se prestigiado, decidiu retribuir o gesto com algo que considerava ainda mais valioso: sua última banana.

Ambos passaram a noite morrendo de fome.



Fazer para alguém o que eu gostaria que fosse feito a mim é uma tradição conhecida como ética da reciprocidade  ou regra de ouro. Acredito no seu valor histórico e na sua importância como um parâmetro de desenvolvimento da nossa civilização. Da mesma forma, acredito que ela pode ser um parâmetro inicial para aqueles que buscam olhar e respeitar as pessoas ao redor e não têm ideia de como fazê-lo. Mas não podemos parar por aí.

A regra de ouro revela nobreza, porém não é empatia. Aqui temos um movimento egocêntrico que desconsidera o outro em suas necessidades.

Quanto mais me afasto de mim mesmo, mais próximo estou de dar ao outro o tratamento que ele merece. Isso é, mais entendo as limitações das minhas percepções e não tenho o outro como um reflexo da minha própria pessoa.

Cada ser é um universo, singular, infinito em possibilidades e incalculável em sua essência. Como posso colocar a minha existência como parâmetro para alguém? Ela pode e deve ser um ponto de partida para que então possamos expandir.

Se eu sou um universo, é importante que eu me conheça, que me descubra e que tenha também auto-empatia. Que eu não seja refém dos meus próprios julgamentos e cobranças. Que eu me aceite e respeite a minha própria complexidade. Então a partir disso, posso ir adiante:

Descobrir outros universos aprender a respeito deles e respeitá-los em suas maneiras únicas de ser, de viver e de relacionar. Respeitar a sua capacidade de solução e sua tendência natural ao desenvolvimento do seu livre espírito.

E aí sim, estarei um pouco mais próximo de entregar ao outro aquilo que ele mais necessita dentro daquela vivência.


Às vezes uma palavra, às vezes um movimento, às vezes a escuta, às vezes o silêncio...


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O que achou? Gratidão por ter chegado até aqui! Espero que tenha sido útil a você. 

Se você leu até aqui, esse assunto possivelmente é relevante na sua experiência e se é esse o caso gostaria de compartilhar com você um vídeo sobre o tema.

Trata-se de "A importância da Empatia", traduzido pelo canal QuatroV. Esse é o vídeo mais completo que eu já vi, no entanto possui apenas 3 minutos. Em outras palavras, é um vídeo denso que você deve ver com muita atenção.

Esse vídeo foi tema da nossa Segundinha dentro da lista de e-mail. Você pode fazer parte gratuitamente, apenas preenchendo os dois campos ali embaixo.

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