A CNV pode nos ajudar a nos libertar do condicionamento cultural
Libertando-nos de velhos condicionamentos
“Todos nós
aprendemos coisas que nos limitam como seres humanos - seja de pais
bem-intencionados, de professores, de religiosos ou de outras pessoas. Passado
adiante através de gerações, até de séculos, muito desse aprendizado
cultural destrutivo está tão enraizado em nossa vida que nem temos mais
consciência dele”.
Precisamos de
muita energia e consciência para reconhecer o aprendizado destrutivo e
transformá-lo em pensamentos e atitudes que valorizam e servem a nossos
propósitos de vida. De empatia e conexão com nós mesmos. Uma competência
diferenciada para lidar com as nossas necessidades e estar em contato com nós
mesmos. O que são coisas muito difíceis em nossa cultura: além de não sermos
educados para compreender nossas necessidades, somos frequentemente expostos a
uma formação que bloqueia ativamente a nossa consciência.
Como vimos
não só no Capítulo 2, mas ao longo de todo o livro, a comunicação alienante da
vida é grande ferramenta a serviço das elites poderosas em sociedades baseadas
na dominação.
“As massas
foram desencorajadas de desenvolver a consciência de suas próprias
necessidades; ao contrário, foram educadas para serem dóceis e subservientes à
autoridade”.
“Nossa
cultura implica que as necessidades são negativas e destrutivas; a palavra
necessitada, quando aplicada a uma pessoa, sugere que ela é inadequada ou
imatura. Quando as pessoas expressam suas necessidades, frequentemente são
rotuladas de "egoístas", e o uso do pronome pessoal
"eu" muitas vezes é considerado um sinal de egoísmo ou de carência”.
Trabalhar a
CNV, entender o que é observação e o que é avaliação, reconhecer nossos
pensamentos, necessidades e sentimentos, expressar de forma clara e ativa,
ajuda-nos a ficar mais conscientes e presentes para o condicionamento cultural
que nos influencia o tempo todo.
Resolvendo conflitos interiores
A CNV pode
contribuir na resolução de conflitos interiores que resultam frenquentemente em
depressão. Marshall acredita que a depressão pode ser indicativa de um estado
de alienação de nossas necessidades:
“Um diálogo impregnado de julgamentos, nos tornamos alienados daquilo que precisamos, por isso, impedidos de agir para atender a essas necessidades”.
Aqui, nos
deparamos com o exemplo de uma mulher que estava sofrendo um surto
profundo de depressão. Ela fora solicitada a identificar as vozes dentro de
si quando se sentia mais deprimida e a escrevê-las como se essas vozes
estivessem falando uma com a outra:
Repare como
ela está presa em mensagens carregadas de termos que detonam julgamento. “Deveria”,
“desperdiçando minha educação”, “não consigo dar conta”...
Tomando “a
pílula da CNV”, pediu-se que ela reformulasse a voz da profissional em “Quando
acontece (a), sinto-me (b), porque preciso de (c). Portanto, agora eu gostaria
de (d)”.
Então ela
encontrou o seguinte:
- “Quando passo tanto tempo em casa com meus filhos sem exercer minha profissão, sinto-me deprimida e desestimulada, porque preciso da realização que outrora tive em meu trabalho. Portanto, agora gostaria de encontrar um emprego de meio expediente em minha profissão”.
- “Quando
me imagino indo trabalhar, sinto-me amedrontada, porque preciso
ter certeza de que as crianças estarão sendo bem cuidadas. Portanto, agora
eu gostaria de
planejar um meio de proporcionar cuidados de qualidade para meus filhos
enquanto trabalho e de encontrar tempo suficiente para ficar com as crianças
quando eu não estiver cansada”.
Ao fazer
isso, a mulher conseguiu entender as necessidades por detrás das mensagens
alienantes e repetitivas, oferecendo, assim, empatia a si mesma. O que a trouxe
sentimento de grande alívio.
Se formos
capazes de escutar nossos próprios sentimentos e necessidades e de entrar em
empatia com eles, poderemos nos libertar da depressão.
Cuidando de nosso meio interno
“Quando
estamos enredados em pensamentos de crítica, culpa ou raiva, é difícil
estabelecer um meio interno saudável para nós mesmos. A CNV nos ajuda a
criar um estado mental mais pacífico, ao nos encorajar a nos concentrarmos
naquilo que verdadeiramente desejamos, em vez de naquilo que está errado com os
outros ou com nós mesmos”.
Remover
“Concentrar-se no que se deseja, não no que deu errado”.
Um estado
interno mais pacífico que pode realmente deixar a nossa vida mais maravilhosa.
Aliviar não só a depressão, como falamos, como também a ansiedade e o estresse.
Podemos
desarmar pensamentos e julgamentos cíclicos escutando nossas necessidades e/ou
estabelecendo empatia com as outras pessoas, o que faz com o que o estresse
proveniente do julgamento perca o seu sentido e a sua força.
Substituindo diagnósticos com a CNV
No
encerramento deste capítulo, Marshall relata sua própria experiência como
psicólogo e precursor da CNV dentro da psicologia e do ambiente clínico.
Questionado,
ele tinha, muitas vezes, receio de mostrar como quebrava os paradigmas da
profissão para se conectar com seus clientes, evitando diagnósticos prontos
(que muitas divergiam de escola para escola).
No entanto,
após os excelentes resultados que obteve, ele sentiu-se confiante para
apresentar uma terapia em que se envolva um vínculo empático entre psicólogo e
cliente:
“Ao adotarmos
as habilidades e a consciência da CNV, podemos aconselhar os outros em
encontros que são genuínos, aberto e mútuos, em vez de recorrermos a relações
profissionais caracterizadas pelo distanciamento emocional, diagnósticos e
hierarquia”.
Até o próximo
e último capítulo!