O vício de internet é algo mais comum do que a gente imagina...
Veja se você, assim como eu, se identifica com Larissinha:
“Larissinha ao acordar, ainda com areia nos
olhos, estica a mão e pega o celular em algum canto da cabeceira da cama ou da
mesinha. Ainda sem ver como está o dia. Sem sair das cobertas. Sem saber se
está quente ou frio, ou chovendo. Sem mexer o resto do corpo, sem acordá-lo,
alongá-lo ou ver se tá tudo bem. Todo dia é sempre assim. 17 notificações no
Whats, uma passadinha no Face e um confere no Snapgram do Insta. O mundo lá
fora só vem depois”.
E
não é exatamente desse jeito? A gente fica online assim... até a hora de dormir. Celular na cama, do ladinho. Navegar é sempre
a última coisa antes do sono. Isso quando não acordamos de madrugada e dá
aquela vontade de matar de ver se aconteceu algo novo por ali.
Viciados em internet e em informação: um caminhão de dados a cada minuto.
Alguns
segundos rolando o feed de uma rede social é suficiente pra se obter um volume
enorme de dados. Cada postagem traz título, foto/vídeo, comentários, reações,
relacionados, sugestões, barra lateral... Nomes de quem interagiu, amigos em
comum...
Ao
mesmo tempo nesse feed, se no celular, notificações uma atrás da outra:
mensagens de textos, Snap, Whatsapp, e-mail... Se no desktop, 16 abas do Google
Chrome...
É
tanta coisa que fica impossível processar, digerir...
O
que eu sinto é que nossa atenção está ficando permanentemente difusa. Se concentrar em algo importante é cada vez
mais difícil. Se manter focado em uma coisa, significa estar perdendo outras
milhares e a sensação de não saber o que
está acontecendo é horrível. A gente não quer ficar pra trás.
Isso
pode e traz profundas consequências, tanto no modo de vida particular das
pessoas, quanto na nossa convivência enquanto comunidade no ambiente digital.
Ter
a possibilidade de estar online, assim, recebendo o mundo na palma da mão em
tempo integral é uma conquista realmente incrível, porém imatura e percebo que
ainda é preciso que nos adaptemos de maneira mais saudável, para aí sim
conseguir tirar o máximo proveito desse avanço revolucional.
A infomania no vício de internet
O vício de estar
conectado 24/7 em uma necessidade incessante de consumir dados é um
comportamento disfuncional e tem nome: infomania. Definido como “desejo
compulsivo de checar ou acumular notícias e informações, comumente via celular
ou computador”.
Infomaníacos – eu
incluso – são propensos a sentirem os efeitos da sobrecarga de informação, uma
espécie de overdose. Essa sobrecarga é uma condição mental e fisicamente
desgastante. Os sintomas incluem pensamento lento, cabeça rodando e
criatividade reprimida.
Depois de passar um
dia inteiro no vício de internet, acumulando o máximo de informação possível, me sinto gasto e pouco produtivo. Mas
não importa o quão exausto eu me sinta, continuo voltando para mais
conhecimento, mais atualizações, mais menes, mais conteúdo... Sem reter nada. Acumulo, mas não dou
conta de absorver. Não seria nem
humanamente possível.
Todo dia é uma luta para achar o equilíbrio certo entre informação e
vida.
As consequências
são trágicas, tanto dentro de uma questão pessoal, quanto no nosso
ambiente coletivo de comunidade digital. Estou certo deque você vai se
identificar com algumas delas.
Quero ressaltar com
você três perdas particulares que estão causam cada vez mais sofrimento em quem sofre
com o vício de internet:
1) Falta de foco/dificuldade de concentração.
Lembro que, na
infância, lia os livros da Coleção Vagalume de maneira fluida e rápida. Me imergia na
história e a imaginação tomava conta. Hoje, ler um artigo médio sequer é uma
batalha.
Estudando técnicas
de escrita para internet, descobri que ninguém lê um texto realmente, só o escaneia,
isto é, passa o olho, vê as palavras em destaque e os subtítulos para, depois,
se gostar, voltar e ler mais um pouco.
(Inclusive, é o que
você provavelmente está fazendo neste preciso texto. Aliás, caso tenha passado
por essa linha, deixe um comentário ali embaixo)
Um áudio de mais de um minuto, um texto com mais de 500
palavras são as novas ferramentas de tortura do nosso tempo.
Nesse exato
momento, ao escrever esse texto, faço inúmeras interrupções procurando por
novidades nas minhas redes e isso, certamente, acarreta em uma perda
significativa de qualidade, não só do texto, mas da minha vida, experiência e
aprendizado.
Acontece que a
gente, infomaníacos, se acostuma a interrupção constante e, por isso, se
concentrar totalmente é muito difícil. Sabendo que essa interrupção virá a
qualquer momento, nos apressamos em fazer as tarefas de forma rápida e afobada
para compensar.
Quando a
interrupção não vem, nós a criamos. Toda hora uma checadinha no celular (é
como ficar abrindo a geladeira nos momentos de tédio sabendo que não tem nada).
Isso é vício de internet que afeta produtividade, qualidade tão demanda também nessa contemporaneidade.
2) Ausência e distração eterna
Para Gustavo Gitti: “É como se estivéssemos permanentemente distraídos, como se vivêssemos
qualquer experiência sempre com pelo menos 20% da atenção voltada a uma lista
lateral de vídeos relacionados, pensamentos relacionados, insights incríveis,
posts relacionados, músicas, livros, notificações, bips, mensagens, emails,
comentários... Alguns não desligam o celular nem mesmo em retiros fechados de silêncio no meio
do mato”.
E ele diz mais:
“Se nossa cultura fosse uma pessoa (impulsiva, desligada, entretida),
ela não seria um adulto, ela seria um adolescente”.
Estar no momento
presente, se relacionar, construir empatia.... Tudo isso também requer
concentração. Requer entrega, atenção e energia. É na troca, nessa capacidade
de afetar e ser afetado que a gente constrói a vida, constrói boas lembranças e
vivências e essa construção se torna, cada vez mais, um grande desafio.
Nem lá.... Nem lá!
Quem está em vários lugares ao mesmo
tempo,
não está em lugar nenhum...
O infomaníaco não
quer, de jeito nenhum, sentir que está deixando alguma coisa pra trás.
Concentrar-se algo, mesmo que seja na construção de uma relação, significa
deixar pra trás milhares de outras coisas (como a nova receita com bacon no
Tasty Demais).
A distração muitas
vezes é o caminho mais fácil. Sempre tem aquela situação constrangedora,
aquelas pessoas chatas, aquele momento que você quer que passe logo (lembro-me
do clássico Click) e ter o celular na mão é um alívio.
Mas quais aprendizados estamos abrindo mão fugindo dos momentos desagradáveis?
Essas situações incômodas
podem ser assim por estar justamente além de uma zona confortável e segura para
nós. Ampliar os horizontes dessa zona vivendo experiências diferenciadas ou
cair na distração para retornar ao pequeno “safe-place” de antes?
3) Memória de um peixinho dourado
Além da dificuldade
de se registrar uma memória que se constrói sobre nenhum enfoque, ainda podemos
piorar:
Imagina que toda
vez que você começa uma tarefa nova, um pequeno ciclo se inicia em sua mente e
só se fecha quando aquela tarefa é concluída. No contexto atual da sociedade
moderna, com a sensação de tempo escasso sempre martelando, somos inclinados
a abrir esses ciclos o tempo todo, inúmeras vezes.
Agora imagina o
quanto isso se intensifica para quem está a todo momento procurando dados para
consumir? Quantos ciclos mais são abertos em cima da carga infinita de informação
e quantos deixam de ser fechados pela falta de concentração e distração?
O fato é que o
cérebro humano tende a se lembrar de ciclos abertos. Tarefas a se fazer. Pontas
soltas. E elas são sempre muitas. Aquela atividade concluída se perde na
multidão.
E, assim, coisas
como:
- Esquecer o que disse ou fez, minutos depois ter feito ou dito. “Será que tranquei a porta”? Essa sempre me vem.
- Repetir a mesma história várias vezes como se nunca tivesse contado.
- Perder o fio da meada no meio de uma conversa.
São alguns dos
sintomas dessas pontas soltas martelando na cabeça sem parar.
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Esses são alguns
dos principais problemas, num âmbito pessoal, da infomania e do vício de
internet. Nos próximos textos, vamos falar sobre como isso afeta a nossa convivência
dentro mesmo dentro do ambiente digital. É quase catastrófico e é essencial
que a gente se torne consciente disso.
Ah, não se esqueça
de trazer o seu ponto de vista para a discussão! Os comentários estão abertos.
Grande abraço!
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