Vício de internet e informania na era da distração. #parte1 - O Espaço - Comunicação Não-violenta Vício de internet e informania na era da distração. #parte1

Vício de internet e informania na era da distração. #parte1

2017/09/11 | Nenhum comentário | |

Vício de internet na era da distração

O vício de internet é algo mais comum do que a gente imagina... Veja se você, assim como eu, se identifica com Larissinha:

“Larissinha ao acordar, ainda com areia nos olhos, estica a mão e pega o celular em algum canto da cabeceira da cama ou da mesinha. Ainda sem ver como está o dia. Sem sair das cobertas. Sem saber se está quente ou frio, ou chovendo. Sem mexer o resto do corpo, sem acordá-lo, alongá-lo ou ver se tá tudo bem. Todo dia é sempre assim. 17 notificações no Whats, uma passadinha no Face e um confere no Snapgram do Insta. O mundo lá fora só vem depois”.

E não é exatamente desse jeito? A gente fica online assim... até a hora de dormir. Celular na cama, do ladinho. Navegar é sempre a última coisa antes do sono. Isso quando não acordamos de madrugada e dá aquela vontade de matar de ver se aconteceu algo novo por ali.

Viciados em internet e em informação: um caminhão de dados a cada minuto.


Alguns segundos rolando o feed de uma rede social é suficiente pra se obter um volume enorme de dados. Cada postagem traz título, foto/vídeo, comentários, reações, relacionados, sugestões, barra lateral... Nomes de quem interagiu, amigos em comum...

Ao mesmo tempo nesse feed, se no celular, notificações uma atrás da outra: mensagens de textos, Snap, Whatsapp, e-mail... Se no desktop, 16 abas do Google Chrome...

É tanta coisa que fica impossível processar, digerir...

O que eu sinto é que nossa atenção está ficando permanentemente difusa. Se concentrar em algo importante é cada vez mais difícil. Se manter focado em uma coisa, significa estar perdendo outras milhares e a sensação de não saber o que está acontecendo é horrível. A gente não quer ficar pra trás.

Isso pode e traz profundas consequências, tanto no modo de vida particular das pessoas, quanto na nossa convivência enquanto comunidade no ambiente digital.



Ter a possibilidade de estar online, assim, recebendo o mundo na palma da mão em tempo integral é uma conquista realmente incrível, porém imatura e percebo que ainda é preciso que nos adaptemos de maneira mais saudável, para aí sim conseguir tirar o máximo proveito desse avanço revolucional.

A infomania no vício de internet


O vício de estar conectado 24/7 em uma necessidade incessante de consumir dados é um comportamento disfuncional e tem nome: infomania. Definido como “desejo compulsivo de checar ou acumular notícias e informações, comumente via celular ou computador”.

Infomaníacos – eu incluso – são propensos a sentirem os efeitos da sobrecarga de informação, uma espécie de overdose. Essa sobrecarga é uma condição mental e fisicamente desgastante. Os sintomas incluem pensamento lento, cabeça rodando e criatividade reprimida.

Depois de passar um dia inteiro no vício de internet, acumulando o máximo de informação possível, me sinto gasto e pouco produtivo. Mas não importa o quão exausto eu me sinta, continuo voltando para mais conhecimento, mais atualizações, mais menes, mais conteúdo... Sem reter nada. Acumulo, mas não dou conta de absorver. Não seria nem humanamente possível.

Todo dia é uma luta para achar o equilíbrio certo entre informação e vida.

As consequências são trágicas, tanto dentro de uma questão pessoal, quanto no nosso ambiente coletivo de comunidade digital. Estou certo deque você vai se identificar com algumas delas.

Quero ressaltar com você três perdas particulares que estão causam cada vez mais sofrimento em quem sofre com o vício de internet:


1) Falta de foco/dificuldade de concentração.

Lembro que, na infância, lia os livros da Coleção Vagalume de maneira fluida e rápida. Me imergia na história e a imaginação tomava conta. Hoje, ler um artigo médio sequer é uma batalha.

Estudando técnicas de escrita para internet, descobri que ninguém lê um texto realmente, só o escaneia, isto é, passa o olho, vê as palavras em destaque e os subtítulos para, depois, se gostar, voltar e ler mais um pouco.

(Inclusive, é o que você provavelmente está fazendo neste preciso texto. Aliás, caso tenha passado por essa linha, deixe um comentário ali embaixo)

Um áudio de mais de um minuto, um texto com mais de 500 palavras são as novas ferramentas de tortura do nosso tempo.

Nesse exato momento, ao escrever esse texto, faço inúmeras interrupções procurando por novidades nas minhas redes e isso, certamente, acarreta em uma perda significativa de qualidade, não só do texto, mas da minha vida, experiência e aprendizado.

Acontece que a gente, infomaníacos, se acostuma a interrupção constante e, por isso, se concentrar totalmente é muito difícil. Sabendo que essa interrupção virá a qualquer momento, nos apressamos em fazer as tarefas de forma rápida e afobada para compensar.

Quando a interrupção não vem, nós a criamos. Toda hora uma checadinha no celular (é como ficar abrindo a geladeira nos momentos de tédio sabendo que não tem nada).

Isso é vício de internet que afeta produtividade, qualidade tão demanda também nessa contemporaneidade.

2) Ausência e distração eterna

Para Gustavo Gitti: “É como se estivéssemos permanentemente distraídos, como se vivêssemos qualquer experiência sempre com pelo menos 20% da atenção voltada a uma lista lateral de vídeos relacionados, pensamentos relacionados, insights incríveis, posts relacionados, músicas, livros, notificações, bips, mensagens, emails, comentários... Alguns não desligam o celular nem mesmo em retiros fechados de silêncio no meio do mato”.

E ele diz mais:

“Se nossa cultura fosse uma pessoa (impulsiva, desligada, entretida), ela não seria um adulto, ela seria um adolescente”.

Estar no momento presente, se relacionar, construir empatia.... Tudo isso também requer concentração. Requer entrega, atenção e energia. É na troca, nessa capacidade de afetar e ser afetado que a gente constrói a vida, constrói boas lembranças e vivências e essa construção se torna, cada vez mais, um grande desafio.

Nem lá.... Nem lá! 
Quem está em vários lugares ao mesmo tempo, 
não está em lugar nenhum...

O infomaníaco não quer, de jeito nenhum, sentir que está deixando alguma coisa pra trás. Concentrar-se algo, mesmo que seja na construção de uma relação, significa deixar pra trás milhares de outras coisas (como a nova receita com bacon no Tasty Demais).

A distração muitas vezes é o caminho mais fácil. Sempre tem aquela situação constrangedora, aquelas pessoas chatas, aquele momento que você quer que passe logo (lembro-me do clássico Click) e ter o celular na mão é um alívio. Mas quais aprendizados estamos abrindo mão fugindo dos momentos desagradáveis?

Essas situações incômodas podem ser assim por estar justamente além de uma zona confortável e segura para nós. Ampliar os horizontes dessa zona vivendo experiências diferenciadas ou cair na distração para retornar ao pequeno “safe-place” de antes?

3) Memória de um peixinho dourado

Além da dificuldade de se registrar uma memória que se constrói sobre nenhum enfoque, ainda podemos piorar:



Imagina que toda vez que você começa uma tarefa nova, um pequeno ciclo se inicia em sua mente e só se fecha quando aquela tarefa é concluída. No contexto atual da sociedade moderna, com a sensação de tempo escasso sempre martelando, somos inclinados a abrir esses ciclos o tempo todo, inúmeras vezes.

Agora imagina o quanto isso se intensifica para quem está a todo momento procurando dados para consumir? Quantos ciclos mais são abertos em cima da carga infinita de informação e quantos deixam de ser fechados pela falta de concentração e distração?

O fato é que o cérebro humano tende a se lembrar de ciclos abertos. Tarefas a se fazer. Pontas soltas. E elas são sempre muitas. Aquela atividade concluída se perde na multidão.

E, assim, coisas como:
  • Esquecer o que disse ou fez, minutos depois ter feito ou dito. “Será que tranquei a porta”? Essa sempre me vem.
  • Repetir a mesma história várias vezes como se nunca tivesse contado.
  • Perder o fio da meada no meio de uma conversa.

São alguns dos sintomas dessas pontas soltas martelando na cabeça sem parar.
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Esses são alguns dos principais problemas, num âmbito pessoal, da infomania e do vício de internet. Nos próximos textos, vamos falar sobre como isso afeta a nossa convivência dentro mesmo dentro do ambiente digital. É quase catastrófico e é essencial que a gente se torne consciente disso.

Ah, não se esqueça de trazer o seu ponto de vista para a discussão! Os comentários estão abertos.

Grande abraço!


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